O Universo caminha não para a morte, mas para ordens cada vez mais elevadas de vida, e o ser humano é chamado a adotar posturas de colaboração e solidariedade, capazes de garantir o futuro do nosso planeta, disse o teólogo Leonardo Boff, na manhã desta quarta-feira, 8, no seminário Utopias agrárias. Em mesa-redonda com o pesquisador Marcelo Jasmin (Iuperj/PUC-RJ), e tendo como mediadora a vice-reitora Heloísa Starling, coordenadora do evento, Boff falou da Teoria Gaia, utopia que segundo ele "poderá reencantar nosso olhar sobre o universo", pois demonstra que o ser humano e o Universo têm a mesma origem e o mesmo destino, e que é possível adotar estratégias de salvamento da nossa casa comum, a Terra. Apesar das preocupações com "cenários alarmantes e anti-utópicos, como o superaquecimento e a devastação da biosfera", Boff afirmou que "a desordem nunca é só desordem, e obriga a criar novas formas de ordem". Utopias Jardim destacou que utopia não deve ser confundida com "o país das delícias", nem com um tipo de república ideal, "a república da moral perfeita", mas, segundo Morus, "aponta para o não-ser ainda, algo que pode vir a ser". Novos debates Segundo ela, "quilombolas, colônias anarquistas e comunidades milenaristas são apenas algumas dessas experiências. Escavar o solo da memória e buscar a expressão que possa traduzir o significado político desses eventos é o que se pretende discutir nessa mesa". A programação do dia se completou às 19h30, com o depoimento do líder camponês Manoel Conceição. Quinta-feira
Já o pesquisador Marcelo Jardim resgatou o surgimento do termo utopia, a partir de Thomas Morus, citou autores que trabalham o tema, e lembrou que o termo remete a sonhos humanos de um mundo melhor.
O seminário prosseguiu à tarde com a mesa Experiências comuns de vida no campo, com Flávio dos Santos Gomes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Cunha, da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e Carlos A. Leite Brandão, da UFMG. "No mundo rural brasileiro, não foram poucas as experiências de vida comum que, embora evanescentes, inventaram novas formas de sociabilidade, de produção e de organização política", diz a coordenadora do evento, Heloísa Starling.
Nesta quinta-feira, 9, o seminário Utopias Agrárias prossegue, pela manhã, com a mesa Estado e cidadania para o sertão, com o cientista político Leonardo Avritzer, da UFMG, Cícero Araújo, da Universidade de São Paulo (USP) e Newton Bignotto, do Departamento de Filosofia da UFMG. O debate vai girar em torno do projeto republicano para o campo, que deveria assegurar a lei como ponto de referência e de memória para transformação da realidade cotidiana. Ao mesmo tempo, supõem-se que esse projeto deveria garantir ao trabalhador rural o sentimento de pertencer à sociedade política, o que constitui a própria definição moderna do conceito de cidadania
À tarde a discussão vai girar em tono da Imaginação brasileira e sentimento de reforma agrária. Debatem o tema a psicanalista Maria Rita Kehl e os professores Wander Miranda
Juarez Rocha Guimarães, ambos da UFMG. O tema desafia o dilema de superar um mundo ainda feudal e atrasado; modernizar as relações trabalhistas e redistribuir a terra; colonizar os espaços vazios do Brasil, atenuando pressões demográficas e os conflitos pela posse da terra; reformar radicalmente a estrutura agrária; ou simplesmente esquecer o mundo rural, perante um país que se urbaniza e industrializa: estas são apenas algumas de tantas respostas ao problema da terra no Brasil.