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As utopias agrárias do pensamento moderno retomam a integração entre o agrário e o urbano, como acontecia na polis grega e na civilis romana, para buscar novas formas de equilíbrio. Tal meta se faz necessária porque os excessos da utopia urbana corrompem as possibilidades de cidadania. Esse foi o eixo da exposição feita por Cícero Araújo, da Universidade de São Paulo (USP), na abertura da mesa Estado e cidadania para o sertão, no segundo dia do seminário Utopias Agrárias, promoção do Projeto República em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Também participaram da mesa o cientista político Leonardo Avritzer, da UFMG, e Newton Bignotto, do departamento de Filosofia da Fafich. O debate girou em torno do projeto republicano para o campo, que deveria assegurar a lei como ponto de referência e de memória para transformação da realidade cotidiana. Ao mesmo tempo, supõe-se que esse projeto deveria garantir ao trabalhador rural o sentimento de pertencer à sociedade política, o que constitui a própria definição moderna do conceito de cidadania. "Todas as sociedades no mundo antigo e moderno que se preocuparam com a ampliação da cidadania envolveram-se com a questão do acesso à terra. É um pressuposto", disse Avritzer. Ainda segundo o cientista, tanto na Grécia quanto em Roma, a reforma agrária permitiu a resolução de outras tensões que possibilitaram a cidadania. Programação O encerramento do seminário será realizado nesta sexta-feira, 10, com a mesa Utopias agrárias e questão ambiental, com a presença dos professores Hugo Achugar, da Universidad Nacional de la República (Uruguai) e Jean Hebette, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos. Outras informações pelo telefone (31) 3409-5513, das 14h às 18h.
À tarde, a discussão será em tono da Imaginação brasileira e sentimento de reforma agrária. Debatem o tema a psicanalista Maria Rita Kehl e os professores Wander Miranda e Juarez Rocha Guimarães, ambos da UFMG. O tema desafia o dilema de superar um mundo ainda feudal e atrasado; modernizar as relações trabalhistas e redistribuir a terra; colonizar os espaços vazios do Brasil, atenuando pressões demográficas e os conflitos pela posse da terra; reformar radicalmente a estrutura agrária; ou simplesmente esquecer o mundo rural, perante um país que se urbaniza e industrializa: estas são apenas algumas de tantas respostas ao problema da terra no Brasil.