A exibição do vídeo Matriz Palavras abriu, na manhã desta sexta-feira, 10, as atividades do último dia do seminário Utopias agrárias, realizado no auditório da Escola de Ciência da Informação, no campus Pampulha. Na mesa-redonda da manhã, os pesquisadores Hugo Achugar, da Universidad Nacional de la República, do Uruguai, e Jean Habette, da Universidade Federal do Pará, falaram sobre as possibilidades de uma utopia concreta na sociedade contemporânea e sobre as contradições entre utopias agrária e ambiental. O vídeo é parte do projeto Sentimento de Reforma agrária, sentimento de República, realizado pelo Projeto República, da UFMG, em parceria com o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead), do Ministério do Desenvolvimento Agrário. O evento reuniu, desde a última terça-feira, especialistas brasileiros e estrangeiros para avaliar as memórias e o significado político de movimentos pela reforma agrária no Brasil, associando-os ao ideário republicano. Globalização Segundo Achugar, pensar um mundo utópico “implica pensar uma sociedade onde haja universalidade da harmonia”. O pesquisador uruguaio fez referência aos muros que separam sociedades e advertiu: “uma utopia concreta, realizável, não admite a existência de nenhum tipo de muro, pois utopia e exclusão são antagônicas”. Na sua opinião, um mundo utópico se diferencia de uma sociedade de mercado por princípios como acesso, participação, justiça e eqüidade. Achugar questionou se é possível ter esperança na sociedade capitalista, e afirmou que o sujeito de um mundo utópico deverá ser o indivíduo renovado, portador de uma nova ética, com responsabilidade sócio-ecológica. Agricultura x natureza Em sua palestra, Habette lançou a questão: “Não haveria um desencontro entre a utopia agrária e a utopia ambiental?” Segundo o pesquisador, desde a Idade Média prevalece a idéia da superioridade das atividades agrícolas sobre a cobertura vegetal natural da terra. Desde então, a mata é vista como selvageria, e o latifúndio chega para desbravá-la, tornado-a mansa e produtiva. Habette também fez um histórico da região amazônica, onde trabalha há mais de 30 anos, e citou utopias presentes em diferentes períodos, como a que marcou a chegada dos trabalhadores nordestinos à região, nas décadas de 1940 e 50 – a utopia camponesa; a utopia dos seringueiros, que lutaram para não sair da floresta; e, mais recentemente, a utopia ambientalista.
É possível ter esperança em tempos de globalização? O professor Hugo Achugar lembrou que os sonhos e a imaginação acerca de um futuro melhor têm acompanhado a humanidade, e que pensar um mundo utópico neste início de século exige uma reflexão a respeito de duas filosofias que se contrapõem: a utopia de mercado e a utopia da preservação.
Jean Habette elogiou a constituição original do seminário Utopias agrárias, que mesclou reflexão teórica densa, apresentação de documentos visuais e participação de jovens e de pessoas que têm ligação com a terra.