Universidade Federal de Minas Gerais

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Tese avalia a relação de professores e alunos com textos literários, dentro e fora da sala de aula

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007, às 11h01

A literatura e a formação da “comunidade de leitores”. Esse é o foco da tese de doutorado Letramento literário na escola: um estudo de práticas de leitura de literatura na formação da “comunidade de leitores” defendida na Faculdade de Educação da UFMG, pela professora Marta Passos, graduada em Letras e mestre em Literatura Brasileira pela UERJ.

A autora utilizou o conceito “comunidade de leitores” para tratar da concepção de leitura como prática social, segundo a qual o sujeito-leitor aprende a interpretar um texto, não de forma individual, mas através de códigos de interpretação apreendidos dentro da comunidade de que faz parte. Segundo Marta, a escola se destaca entre as instituições formadoras dessa comunidade, e o livro didático é importante nesse processo.

Escolas
Marta acompanhou, durante um ano, uma turma de quinta série de uma escola municipal de Belo Horizonte, partindo do pressuposto de que, nesse estágio, esses alunos já teriam adquirido a tecnologia da leitura e da escrita e já saberiam ler e escrever com certa autonomia. Porém, Marta deparou-se com alunos semi-analfabetos, mesmo na turma de quinta série de uma escola pública considerada boa.

Mesmo assim, ela seguiu com sua pesquisa. Durante o primeiro semestre, assistiu a todas as aulas de português da turma e, no seguinte, intercalou aulas e entrevistas com a professora e alguns alunos.

A partir disso, a autora analisou três facetas. A primeira delas procurava investigar os textos literários propostos para leitura na sala de aula e os suportes mais usados pela professora. Ao longo do ano, Marta observou que a professora trabalhava com livros de literatura e xérox de outros livros didáticos, mas o livro didático adotado pela escola era, de longe, o suporte mais utilizado.

Marta questionou, então, a forma como esses livros tratavam a literatura. “Em nosso contexto pedagógico, a importância do livro didático é muito grande, pois auxilia o professor, além de ser uma forma de os alunos discutirem em cima de um mesmo texto”.

Segundo Marta, o que deve ser mudado é a forma como isso é trabalhado. “As questões propostas pelo livro didático devem servir para estimular a discussão na sala. O professor deve acrescentar, tirar, modificar. Ele não pode impor uma determinada interpretação”.

Didáticos
De acordo com Marta, os livros didáticos, em geral, são muito fechados. Não só nas respostas do livro do professor, mas também na maneira como as perguntas são feitas. “Algumas porque são muito objetivas, mas mesmo as inferenciais, que deveriam exigir uma análise crítica, são, muitas vezes, direcionadas, partindo de pressupostos que não respeitam as pistas textuais e guiando para uma determinada interpretação”, diz.

Às vezes, o livro didático é usado também para determinar formas de agir e sentir na sociedade, com o objetivo de controlar a infância e a juventude. A própria escolha do professor por um texto ou livro literário, geralmente, é voltada para um objetivo moral, tendo um caráter utilitário pedagógico forte. Segundo Marta, quando o livro não mostra isso diretamente, a forma como o professor trabalha com ele acaba indo por esse caminho.

Todas essas questões entraram também na segunda faceta analisada por Marta, que foi a prática de leitura realizada em sala de aula. Ela observou como a professora propunha trabalhos, que perguntas fazia aos alunos e como recebia suas respostas. Percebeu, então, que, ao trabalhar com livros didáticos, a professora ficava muito presa a eles e a suas respostas prontas. Quando os alunos apresentavam questões diferentes, estas eram pouco discutidas ou nem sequer consideradas. Já no trabalho com livros de literatura, a postura da professora era diferente.

Táticas
Segundo Marta, a professora fez um trabalho interessante com os livros de literatura que seus alunos haviam ganhado, no ano anterior, do Programa Nacional da Biblioteca na Escola (PNBE). Cada aluno escolheu um e o apresentou para a sala, fazendo um resumo da história e destacando os pontos de que mais gostou.

Marta acredita que “esse trabalho deu muito certo, porque a professora fugiu daquilo que o livro didático traz, da resposta pronta, permitindo que os alunos trouxessem interpretações diversificadas e participassem mais. Esse tipo de prática dá responsabilidade ao aluno, faz com que ele seja mais sujeito do processo. No entanto, é importante que, em alguns momentos, o professor se coloque no papel de mediador, propondo e problematizando questões”.

A pesquisadora aplica nessa experiência o conceito de Certeau, de táticas e estratégias. “Se o livro tem estratégias para formar leitores, o leitor também possui táticas de recepção e nem sempre vai receber aquilo do jeito que está previsto no livro. Da mesma forma, o professor também pode criar táticas, saindo daquilo que é determinado e partindo para outras atividades”, afirma. Outra tática usada pela professora foi selecionar poemas para recitar aos alunos.

O pior e o melhor
Marta dedicou a terceira faceta às práticas de leitura realizadas pelos alunos fora de sala de aula. A idéia era observar se a forma como a literatura é trabalhada no livro didático influencia o aluno na interpretação de outros textos. Para isso, ela pediu à professora que escolhesse um aluno de cada uma das três categorias determinadas por ela: um bom leitor, um aluno mediano e outro que tivesse muita dificuldade.

Essa divisão foi feita apenas para saber o que é valorizado pela professora. Escolhidos os alunos, Marta os acompanhou dentro da biblioteca da escola, observando suas escolhas literárias e conversando sobre esses livros.
Marta percebeu que os três tinham em comum o gosto pela leitura, já que procuravam livros por conta própria, e o fato de terem, em casa, praticamente, só os livros que ganhavam do PNBE.

A menina considerada pela professora melhor aluna e excelente leitora, Marta a percebeu como uma leitora obediente e disciplinada. O aluno mediano já não obedecia tanto, lia livros destinados a jovens, mas tinha um comportamento relativamente bom. Já o aluno considerado problemático pela escola, era, para Marta, o melhor da sala.

Todos os professores o consideravam um aluno com dificuldades, pois não era disciplinado e não conseguia acompanhar a turma. Contudo, Marta viu nele um aluno participativo e com um senso crítico muito forte. Suas respostas, muitas vezes, desestabilizavam a professora, que era obrigada a fugir, desviando do assunto e recorrendo para o livro didático.

Como conclusão, Marta viu que os melhores alunos para a escola são os obedientes, que interpretam da forma que a professora quer e como o livro didático propõe. Porém, para Marta, dentre os considerados piores alunos podem estar os melhores críticos. A tese, que começou com o foco no livro didático, culminou em algo mais amplo, no questionamento da formação da comunidade de leitores, em uma sociedade que não quer formar cidadãos críticos, mas que repetem o que é autorizado.

Assim, a pesquisadora dedicou a tese a esses alunos sub-valorizados pelas escolas e pretende continuar estudando esse fenômeno. “Não podemos fugir dessa ‘comunidade de leitores’, mas temos a obrigação de questioná-la o tempo inteiro, pois a transformação é importante”. (Ceale Notícias)

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