Países tão distantes, realidades tão próximas. No Brasil, o acesso universal ao direito a educação ainda é um desafio. Mas a experiência brasileira já pode contribuir para que, em outros países, a aprendizagem da leitura e da escrita seja uma prioridade. Com essa proposta, a ONG Alfabetização Solidária (Alfasol) realiza, desde 2000, um programa de cooperação técnica em países em desenvolvimento. Feito em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação, órgão do Ministério das Relações Exteriores, o programa consiste na capacitação de alfabetizadores locais e no apoio técnico e metodológico aos governos para a formulação de projetos políticos pedagógicos de educação de jovens e adultos (EJA). Atualmente, o programa está presente em cinco países: Timor Leste, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, de língua portuguesa; e Guatemala, de língua espanhola. “Deve existir uma demanda do país, que indica em quais pontos ele quer essa cooperação, além de haver, da nossa parte, o respeito à diversidade e à cultura local, o que é praticado e até reforçado nesses países”, afirma o diretor de Relações Internacionais e Governamentais da Alfasol, Daniel Gonçalves. O programa é organizado em “missões” — visitas técnicas de equipes formadas por pesquisadores de diversas instituições de ensino superior e por uma consultora da Alfasol. Desde 2005, a pesquisadora do Centro de Escrita, Alfabetização e Leitura da Faculdade de Educação da UFMG (Ceale), Francisca Maciel, compõe a equipe de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Na última visita a Cabo Verde, ocorrida em dezembro de 2006, o trabalho teve como foco a avaliação do material didático de apoio à EJA e a discussão sobre a diversidade lingüística, já que a língua corrente no país é o crioulo cabo-verdiano, baseado no português antigo. O objetivo das missões, segundo Daniel Gonçalves, é especialmente compartilhar formas de gestão. “Quando montamos salas de alfabetização, isso ocorre para efeito demonstrativo das aulas, para ajudar na discussão de metodologias, de como fazer a manutenção desses cursos. A proposta não é o atendimento individualizado, mas sim o apoio ao programa geral do país”, esclarece. Avanços Outro avanço foi a realização do I Seminário de Educação de Jovens e Adultos de São Tomé e Príncipe, em 2006. “Aconteceu sem a nossa presença, o que foi um grande passo”, comenta Francisca Maciel. Tanto em Cabo Verde quanto em São Tomé e Príncipe, o programa de cooperação está em fase avançada e a continuidade da atuação brasileira está sendo discutida entre os países parceiros. Para Francisca Maciel, o Brasil ainda tem um grande compromisso com esses países e pode evitar que eles cometam os mesmos erros históricos dos brasileiros nessa área. Por isso, ela acredita que as universidades brasileiras devem ter uma atuação “mais incisiva” de cooperação internacional. “Nós temos experiência acumulada, nós temos pesquisas. Não podemos ficar de braços cruzados. Temos que pensar essa questão da inclusão além das nossas fronteiras.” (Assessoria do Ceale)
Para Daniel Gonçalves, a cooperação está sendo institucionalizada pelos países parceiros, com melhorias inclusive nas próprias estruturas de governo em relação ao ensino de jovens e adultos. “Quando a cooperação teve início, São Tomé e Príncipe ainda não tinha nenhuma estrutura, nenhum setor responsável pela alfabetização. Hoje, há uma diretoria especializada em alfabetização e EJA”, exemplifica.