Lideradas por integrantes do Projeto Manuelzão, centenas de pessoas se reuniram na praça da Assembléia Legislativa, na tarde desta sexta, dia 23, numa manifestação contra a transposição do rio São Francisco. Organizado pelo Manuelzão, o Fórum de Ongs Ambientalistas de Minas Gerais e a Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente, o protesto marcou o encerramento do 6º Fórum Mineiro das Águas que, com o tema Enfrentando a escassez das águas, buscou estimular a participação da sociedade na gestão dos recursos hídricos em Minas Gerais. A concentração começou às 11h, em frente a Assembléia. Às 12h30, os manifestantes seguiram em passeata até a sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na rua Olegário Maciel. Com faixas, alegorias e carrancas, eles realizaram o enterro simbólico de autoridades que têm se empenhado em levar o projeto de transposição adiante. "A transposição do São Francisco não vai suprir a necessidade de água para abastecimento humano e consumo doméstico dos nordestinos. O povo brasileiro não pode financiar uma obra que vai alimentar a indústria da seca", afirmou Apolo Heringer Lisboa, coordenador geral do projeto Manuelzão. Durante a manifestação, ele defendeu a adoção de propostas mais baratas, de menos impactos ambientais, como a Meta 2010, elaborada pelo próprio projeto e adotada pelo governo de Minas, e o Atlas Nordeste, da Agência Nacional de Águas. Escassez é mito Os professores, ambientalistas, políticos, estudantes e representantes de bacias ligadas ao São Francisco presentes a manisfestação também expressaram a sua insatisfação. "O projeto de transposição não foi pensado na sociedade. Poucas pessoas o elaboraram e um público muito restrito irá se beneficiar dele", disse Bruno Társo, aluno de Redes da Faculdade Estácio de Sá. Para Dalca Teixeira, supervisora do Greenpeace em Belo Horizonte, a transposição não é viável. Junto com outras Ongs, ela se mobiliza para conter o avanço do projeto . "Realizamos campanhas de educação ambiental em escolas para tentar conscientizar a população sobre o tema, além de oferecer orientação sobre como agir para evitar o aquecimento global" afirma. O projeto O governo federal estima que serão necessários R$ 6,6 bilhões para realizar a transposição, recursos que viriam do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas um estudo do professor João Abner, especialista em hidrologia e irrigação da Universidade Federal do Rio Grande, calcula que a obra demandaria quase R$ 20 bilhões.
"No semi-árido brasileiro existem muitos açudes que poderiam ser revitalizados para uso da população local. A transposição vai bombear uma quantia correspondente a 2% da água que já está lá. É preciso elaborar um projeto de gestão que considere as características específicas da região", informou Heringer. O coordenador aponta outras falhas no projeto do governo federal. Para ele, a transposição pode gerar queda da biodiversidade no São Francisco e em seus afluentes, além de demandar muita energia para o bombeamento das águas do rio.
A transposição do rio São Francisco é uma proposta do Governo Federal para combater a seca no semi-árido brasileiro. Com o nome de Projeto de Integração da Bacia do Rio São Francisco às Bacias do Nordeste Setentrional, prevê a construção de 720 quilômetros de canais artificiais para bombear água para diversos estados do Nordeste.