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A Faculdade de Educação (FaE) da UFMG realiza, no próximo dia 24, às 8h30, exibição gratuita do filme Pro dia nascer feliz. Após a sessão, programada para o auditório Neidson Rodrigues, da FaE, haverá debate com o diretor João Jardim. O documentário aborda temas subjetivos sobre a relação do jovem e a escola. Quem, no entanto, espera um filme tradicional sobre os problemas da educação brasileira – baseado em estatísticas desanimadoras divulgadas nos jornais do país – vai se surpreender. João Jardim, diretor do filme, já indica sua proposta ao afirmar que “a educação é sempre vista de uma maneira muito objetiva, e a questão é muito mais subjetiva, psicológica, de relações humanas. A escola é um lugar que envolve muita gente”. Seu propósito não foi fazer uma produção audiovisual sobre a educação brasileira, mas “sobre o adolescente e sobre o que acontece dentro da escola”. O filme apresenta seis escolas de diferentes realidades, uma particular e as outras estaduais: duas da zona rural de Pernambuco, três do estado de São Paulo e uma do estado do Rio de Janeiro. Em cada uma, alunos, professores e diretores falam sobre suas histórias particulares, seus problemas, conflitos e sonhos. Tive uma aula hoje Os alunos, também desiludidos, acabam ficando com “buracos” em seu currículo. Celsa, professora da Escola Estadual Parque Piratininga II, em Itaquaquecetuba (SP), diz que “existe um abismo muito grande entre professor e aluno, professor e diretor. A impressão que eu tenho é que ninguém se entende”. Fátima, diretora dessa mesma escola, afirma que a falta já é esperada. Ela culpa, em parte, a legislação permissiva que “dá direito do professor ter várias faltas sem que isso prejudique sua carreira”. Inês Teixeira, pesquisadora do Ceale, aponta o fato de que a maioria das ausências é por licença médica. Para ela, o que adoece ou desanima os professores são as condições de trabalho muito difíceis, a falta de tempo para se cuidar, o enorme contingente de mulheres na docência (que precisam cuidar do lar, além de tudo), o desencantamento com o sentido da profissão (para grande parte, ela não foi uma escolha) e a falta de preparo para compreender os alunos, que vêm de uma realidade violenta, diferente da que os professores conheciam quando jovens. “A escola absorveu os jovens, mas não redesenhou, em igual medida, as condições de exercício da docência”. No passeio da câmera pelas salas, vê-se que muitas estão vazias, com alunos conversando, professores gritando, desgastados. No início do filme, um professor da Escola Estadual Coronel Souza Neto, em Manari (PE), fala sobre a escassez dos recursos que chegam à escola. Não há água nem papel higiênico no banheiro. Mas, para Jardim, “não é só uma questão de falta de dinheiro. O problema é que o jovem entra numa escola cuja forma de ensinar não faz sentido pra ele”. Já a professora Celsa adverte para a falta de orientação do professor: “O estado deixa tudo muito jogado. Maquia-se muito as coisas”. Fanzine Também é importante a mobilização da sociedade civil na reivindicação por uma escola pública melhor. A família, a comunidade, todos os cidadãos podem e devem se envolver na busca por uma educação de qualidade. “Não é uma questão do governo, dos professores, é uma questão relativa a todos nós”, comenta o diretor do filme. Dados Mais informações sobre a sessão especial de cinema pelo telefone (31) 3409-9797.
Todas as escolas públicas do filme convivem com a falta de professores. Professores que de tanto faltarem, dão a mesma nota para todos – pois não sabem diferenciar o empenho dos alunos. Professores que alegam esgotamento físico e mental, desestimulados frente a uma sala desinteressada e agressiva.
Mas é possível cativar e estimular os jovens. Com projetos culturais, por exemplo. É o que fala Keila, aluna de Celsa, ao contar que saiu de uma depressão com a participação no fanzine da escola. Apesar de tudo, “a escola ainda é o principal espaço de inclusão e expressão do jovem”, ressalta Inês Teixeira. É onde se faz amigos, onde se constrói conhecimento, valores, identidades.
Das escolas mostradas no filme, o Colégio Santa Cruz, escola particular de São Paulo, obteve as melhores notas (73,07 na parte objetiva e 68,42 na redação) no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Também foi a que apresentou a maior participação no exame em relação ao número de matrículas – cerca de 90% dos alunos fizeram a prova. O Colégio Estadual Guadalajara (Duque de Caxias - RJ), a Escola Estadual Parque Piratininga II (Itaquaquecetuba - SP) e a Escola Estadual Levi Carneiro (São Paulo), respectivamente com 42%, 45% e 10% de participação, obtiveram aproximadamente 42% do resultado do colégio particular na parte objetiva e pouco mais da metade na redação. Já a Escola Estadual Antônio Guilherme Dias Lima (Inajá – PE), tendo 15% de participação, obteve, na prova objetiva, 36% e, na redação, 44% do rendimento da escola particular. A Escola Estadual Coronel Souza Neto (Manari – PE) não participou do último Enem, pois só em 2006 passou a ter ensino médio.