Em 15 anos o Brasil poderá ser responsável por 10 bilhões de dólares (ou 1%) do mercado nanotecnológico, estimado em cerca de um trilhão de dólares. Os dados estão no estudo Nanotecnologia, coordenado pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE - www.nae.org.br) da Presidência da República. De acordo com os estudos, feitos sob a responsabilidade dos pesquisadores Oswaldo Luiz Alves e Fernando Galembeck, do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Márcia Maria Rippel, do Instituto do Milênio de Materiais Complexos, o país já dispõe de boas condições para sobressair-se no cenário internacional de nanoprodutos, mas precisa, com urgência, considerar alguns aspectos estratégicos: estabelecer marcos regulatórios para a atividade nanotecnológica; maior interação das empresas com os centros de pesquisa; criar, via BNDES, linhas especiais de crédito para empresas cujos centros de pesquisa estejam comprometidos com estudos de nanotecnologia; maior dedicação aos setores de fármacos, energia, biomedicina e eletrônica; conectar as ações de fomento a nanotecnologia à realidade industrial. A urgência da regulamentação, segundo os estudos, criaria normas ambientais, de segurança dos trabalhadores, de segurança dos consumidores e de privacidade na área de saúde, tanto no serviço público como no setor médico-hospitalar e previdenciário e rural. São regras essenciais para evitar que países mais avançados dificultem exportações do Brasil, ao alegar barreiras fitossanitárias ou ausência de padronização na fabricação de certos produtos. O estudo afirma que a nanotecnologia possibilitará oferta de novos produtos ao consumidor, como cosméticos, tecidos mais resistentes, filtros de proteção solar mais eficientes e de maior duração; na medicina, novos marca-passos e remédios contra diversos tipos de câncer. Os especialistas lembram, no entanto, que se a comercialização for demorada o país pode perder muito nesta área, extremamente dinâmica. Há expectativa de grandes inovações para alguns produtos e processos, como em informática, telecomunicações, química, propriedades de materiais e manufatura de precisão. O Brasil fomenta as atividades de nanotecnologia por meio das agências e fundos setoriais do MCT. Em 2004, foram instituídas a Ação Transversal de Nanotecnologia nos Fundos Setoriais e a Rede BrasilNano. Em 2005, foi lançado o Programa Nacional de Nanotecnologia (PNN) e criado o Centro Brasileiro-Argentino de Nanotecnologia. O PNN, composto por um conjunto de ações apoiadas com recursos orçamentários do PPA 2004-2007 e dos Fundos Setoriais, tem como objetivo atender às demandas estratégicas identificadas pela comunidade envolvida com o desenvolvimento da nanociência e da nanotecnologia e colocar em prática uma das medidas da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce). Outras constatações importantes dos pesquisadores foram: o Brasil dispõe de pesquisadores de qualidade internacional, mercado consumidor significativo e mão-de-obra com custo inferior à média mundial, mas corre o risco de ter empregos e patentes transferidos para outros países; atualmente, os principais setores da indústria em que se aplicam a nanotecnologia são a química e a microeletrônica; os especialistas apontaram a vinculação do desenvolvimento da nanotecnologia com política industrial (semicondutores e eletrônica), políticas públicas (energia, meio ambiente, fármacos, saúde e alimentação) e setores onde o país apresenta alta competitividade, entre eles o setor químico e o petroquímico; registra-se, ainda, metal-mecânico, agronegócio, telecomunicações, metalurgia, construção civil, aeroespacial, defesa etc. Existem centenas de pesquisadores brasileiros altamente capacitados, com campos de pesquisa relacionados aos estudos de pontos quânticos , nanopartículas e nanocristais, ou seja, cristais cujas dimensões estão na escala nanométrica (1 nanômetro = 1 bilionésimo do metro). Temos, ainda, um número significativo de pesquisadores no exterior, seja em programas de cooperação, seja em programas de doutoramento ou pós-doutoramento. As instituições brasileiras mais representativas, por ordem de publicação, que podem variar levemente ao longo dos anos, são: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade de Brasília (UnB). Destacam-se também o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em São Paulo, UFMG, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). No capítulo sobre a nanotecnologia no cenário internacional, o estudo mostra que as regiões mais avançadas na atividade são: América do Norte, com destaque para os Estados Unidos; União Européia, com menção da Alemanha, Reino Unido e França; e Extremo Oriente, com distinção para o Japão e China. Os países mais avançados têm programas de nanotecnologia com orçamentos crescentes, no mesmo patamar, ou muito próximos, aos de biotecnologia, de tecnologias da informação e de meio ambiente. O estudo sobre Nanotecnologia aborda as implicações da atividade para o Brasil e o cenário internacional, com identificação e análise de estratégias governamentais e empresariais. Foram analisados dois grupos de países: aqueles cuja presença na literatura científica já mostravam atividade consistente e/ou atividades apoiadas pela definição de programas nacionais para área, os chamados países-chave (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Inglaterra, Canadá, Suíça, Suécia, Espanha); o outro conjunto foi constituído por países que potencialmente poderiam ser competidores do Brasil, chamados de países-competidores (China, Índia, Austrália, Coréia, Cingapura, Israel, México e Taiwan). O trabalho inclui, também, o mapeamento da competência nacional em nanociência e nanotecnologia entre 1994 e 2004. (Assessoria de Comunicação do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República)