O professor Sérgio Danilo Pena, do departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, fará nesta terça-feira, dia 22, às 10h, no auditório da Reitoria, conferência magna durante a abertura das comemorações dos 80 anos da UFMG. Considerado um dos mais importantes geneticistas do país, Pena abordará as contribuições da teses do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882) para o desenvolvimento da ciência. “A maior contribuição intelectual de Darwin não foi, como é geralmente pensado, a teoria da evolução, mas a idéia da seleção natural”, sentencia Pena, ao lembrar que a seleção natural pregada por Darwin envolvia a combinação de duas forças - chance e necessidade –, essenciais para explicar, de forma natural, a emergência e evolução das diversas formas de vida e da terra. “Chance, na aleatoriedade do processo mutacional de geração de diversidade, e necessidade, no processo de reprodução diferencial dos indivíduos melhor adaptados ao ambiente”, detalha o professor do ICB. A natureza se basta “Darwin demonstrou que a natureza se basta: há um desenho aparente, mas não é preciso invocar a existência de um desenhista. As forças combinadas do acaso e necessidade, de mutações e seleção natural são capazes de explicar a emergência e evolução da vida na terra”, explica o professor. As idéias de Darwin alcançaram tanta ressonância no meio científico que o conceito de seleção natural acabou transposto para outras esferas do conhecimento. Em alguns casos, com resultados nem sempre edificantes para a humanidade. Um desses desdobramentos é o chamado Darwinismo social, que envolveu a aplicação da idéia de seleção natural para tratar sociedades humanas como sistemas que evoluem por competição entre indivíduos, grupos e nações. “O darwinismo social desembocou no movimento eugênico e no nazismo”, relembra Sérgio Pena. Por outro lado, continua o geneticista, o princípio darwinista é a base de uma das mais revolucionárias estratégias modernas de criação de novos fármacos, a seleção in vitro. “A partir de numerosas moléculas candidatas (aptâmeros) chega-se ao composto mais ativo do ponto de vista biológico”, informa o professor. Carreira A diversidade genômica humana e a formação e estrutura da população brasileira são dois dos principais interesses de pesquisa de Sergio Pena. Entre outros temas pesquisados por seu grupo estão a instabilidade genômica humana, a variabilidade de microssatélites, a estrutura populacional do Trypanosoma cruzi e o genoma do Schistosoma mansoni, informa a Revista Ciência Hoje, onde o autor assina a coluna Deriva Genética. Sergio Pena é autor ou co-autor de três livros, 49 capítulos de livro, uma patente e 203 artigos científicos, a maioria em periódicos internacionais. Segundo o Science Citation Index, seus artigos já foram citados mais de quatro mil vezes. Orientou 24 teses de doutorado e 22 de mestrado. Ele também é o fundador e diretor-presidente do Núcleo de Genética Médica de Minas Gerais (Gene), instituição pioneira na América Latina em serviços de diagnóstico pelo estudo do DNA, especialmente de determinação de paternidade.
Surgidas no século 19, as idéias de Darwin acabaram se contrapondo com os adeptos da chamada “teologia natural” - rebatizada hoje com o nome de desenho inteligente -, segundo a qual os seres vivos apresentam uma complexidade irredutível, evidência da sua criação por um ser divino.
Nascido em Belo Horizonte em 1947, Sérgio Danilo Pena é formado em Medicina pela UFMG, doutor em genética humana pela Universidade de Manitoba (Canadá) e pós-doutor pelo Instituto Nacional para Pesquisa Médica, em Londres. Após alguns anos como professor da Universidade McGill, em Montreal (Canadá), retornou ao Brasil, onde se vinculou ao Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, do qual é professor titular desde 1985.