Eber Faioli |
As significações práticas da cidade real e simbólicas da cidade escrita, a cidade do ponto de vista da literatura e a promessa de liberdade dos espaços urbanos foram algumas das questões da exploradas pela escritora argentina Beatriz Sarlo durante a conferência Cidades, itinerários realizada, na manhã desta quarta-feira, 30, no auditório da Reitoria, no campus Pampulha. Sarlo abriu o ciclo de palestras Sentimentos do mundo, que integra as comemorações dos 80 anos da UFMG. A conferecista usa como ponto de partida para essas reflexões poema do escritor Jorge Luis Borges, escrito entre 1923 e 1924. Outros dois textos de Borges, O imortal e Biblioteca de babel , escritos em 1940, foram apresentados por Sarlo para exemplificar a percepção da cidade de Buenos Aires como espaço concluído, fechado e encerrado em si mesmo. A argentina trabalhou a cidade como o local da mescla, sobretudo dentro da ótica latino-americana. Neste contexto, um desafio que se coloca para esta população, segundo Sarlo, é compreender essa mistura como questão fundamental e fundante da cidade. A questão é também trabalhada do ponto de vista da literatura: um escritor de Buenos Aires percebe, no horizonte da cidade, a existência de certa fratura na constituição do tecido urbano e do espírito comunitário do mundo público. Deste ponto, é possível detectar certa ausência de perspectiva social e cultural na cidade contemporânea, especificamente na cultura latino-americana. Por fim, Sarlo discorreu sobre outras maneiras de escrever a cidade: pinturas, artes plásticas, planejamento urbano e, principalmente, periódicos, como jornais e revistas, que inspiram a imaginação de escritores. Convite Para o presidente do Instituto, Carlos Antônio Leite Brandão, o ponto que mais chamou a atenção na fala da escritora foi "a importância do que ela chama de espaço comum, onde as pessoas compartilham o espaço simbólico e uma cultura que, hoje, se encontra fragmentada, devido à violência das cidades na atualidade". A conferencista A pesquisadora também desenvolve estudos sobre a literatura popular e sentimental, a história dos meios de comunicação, o cinema, a cultura de massas e o papel dos intelectuais. No Brasil, tem publicadas as obras Cenas da vida pós-moderna, Paisagens imaginárias, A paixão e a exceção: Borges, Eva Perón, Montoneros e Tempo passado - cultura da memória e guinada subjetiva, recém-lançado pela Editora UFMG e Cia. das Letras. Ciclo de palestras O próximo conferencista é o professor norte-americano Gregory E. Pence, diretor do curso de Ética médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Alabama, Birmigham. Ele falará sobre o tema Tinta anos de bioética: o que aprendemos, para onde vamos?, dia 12 de junho, às 14h, no auditório da Faculdade de Medicina da UFMG. Na ocasião, será lançado o número especial da revista Diversa, dedicado aos 80 anos da Universidade
Ao fim da apresentação, o reitor Ronaldo Pena fez convite formal a Beatriz Sarlo: a ocupação da Cádetra de Estudos Ibero-latino-americanos, fruto de parceria do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) com a Diretoria de Relações Internacionais (DRI) da UFMG. A escritora afirmou que irá considerar o convite e que, possivelmente, em 2009, retornará à Universidade.
Um dos mais importantes nomes da crítica cultural latino-americana, Beatriz Sarlo foi professora de Literatura Argentina na Universidade de Buenos Aires, ministrou cursos em diversas instituições no exterior e, atualmente, dirige a respeitada revista de cultura e política Punto de Vista.
A conferência de Beatriz Sarlo insere-se no ciclo de conferências Sentimento do mundo, que integra as comemorações dos 80 anos da UFMG. O evento contará, ao longo do ano, com a participação de intelectuais, brasileiros e estrangeiros, para discussão de assuntos de interesse de diversas áreas do conhecimento.