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Durante cerca de cinco anos, o aglomerado Morro das Pedras, na região oeste de Belo Horizonte, apresentou os maiores índices de homicídios da capital. Atualmente com uma população de 23 mil pessoas, a comunidade comemora, após a implantação do Fica Vivo! (programa de controle de homicídios), a redução dos assassinatos a quase metade dos casos registrados antes da intervenção. A fim de avaliar o verdadeiro impacto na redução de homicídios e identificar possíveis problemas do programa, a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, Andréa Maria Silveira, defendeu a tese de doutorado Prevenindo homicídios: avaliação do programa Fica Vivo no Morro das Pedras, em Belo Horizonte, na quinta-feira, 28 de junho. De acordo com a Secretaria de Estado de Defesa Social, o orçamento previsto para o programa Fica Vivo! em 2007 é de R$ 6,7 milhões.
A pesquisa, orientada pelo professor Cláudio Beato, foi desenvolvida dentro do curso de doutorado em Ciências Humanas/Sociologia e Política da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). O Fica Vivo!, criado pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, dirigido por Cláudio Beato, foi adotado pelo governo estadual para combater a violência em várias cidades mineiras.
A pesquisa
Foram 129 entrevistas com moradores do Morro das Pedras e mais de 600 entrevistas em outros aglomerados. A professora realizou, pessoalmente, 40 entrevistas em profundidade e cinco com grupos focais formados por lideranças comunitárias.
Uma das conclusões foi a de que os homicídios no local diminuíram mais que em outros focos de violência da cidade, que ainda não foram contemplados pelo programa. A partir dos relatos, a pesquisadora percebeu que os moradores reconhecem a eficiência do Fica Vivo! na redução de homicídios, tiroteios e restrições de livre trânsito, além do favorecimento à integração da comunidade e melhoria da segurança.
Apesar da avaliação positiva, a população acredita que o programa tem ainda um grande desafio: gerar empregos para os jovens. “Muitos vão para o tráfico por falta de oportunidades e mecanismos mais ágeis de capacitação”, reforça Silveira. A violência policial e a dificuldade de manter o entusiasmo nas reuniões do Fórum da Comunidade – implantado pelo Programa – são outras queixas da comunidade.
Em relação ao sistema público de saúde, a professora ressalta que, além dos altos custos sociais, os custos financeiros com a violência também são altos. O atendimento das vítimas envolve procedimentos caros, como cirurgias e equipamentos. “Nas áreas onde são registrados altos índices de violência existe dificuldade para fixar o profissional de saúde nas unidades, pois ele se sente ameaçado”, comenta Silveira.
O Morro das Pedras foi escolhido por ter sido a primeira comunidade a receber o Fica Vivo em Belo Horizonte. Segundo a pesquisadora, a expectativa deste trabalho é a contribuir para a gestão dos programas de combate aos homicídios e enfrentamento da violência. "Avaliar os impactos de políticas de governo é importante para se certificar da importância ou não do investimento”, completa.
(com assessoria da Faculdade de Medicina)