Por Fernanda Cristo Em sua 39ª edição, o Festival está organizado a partir do tema Territórios Híbridos, Linguagens Contemporâneas. “Há sete anos organizamos tudo a partir de um conceito. Oficinas, projetos e eventos culturais são todos elaborados a partir desse eixo direcional”, completa Fernandino. Além de curador do Festival e coordenador da área de Artes Transdisciplinares, o professor foi responsável pela criação da identidade visual do evento este ano. Fernandino escolheu a Ponte do Acaba-Mundo, peça arquitetônica do distrito de Curralinho, como “símbolo da relação do Festival com esses territórios”. O objetivo é valorizar a região que aporta o evento, dando visibilidade à Diamantina que está fora do cartãopostal. Os banners de cada uma das seis áreas artísticas (audiovisuais, cênicas, literárias, musicais, plásticas e transdisciplinares) completam esse projeto. Cada um apresentará a capela de algum distrito de Diamantina. “A capela representa a comunidade, que foi alicerçada na religião católica e aglutina as pessoas em torno de uma filosofia de vida. Remete também a questões patrimoniais e arquitetônicas”, afirma Fernandino. Transdisciplinaridade Para Fernandino, esse processo fez com o artista procurasse, naturalmente, suas referências não apenas nos campos da arte, estética, filosofia e história da arte, mas também nas áreas de ciência e tecnologia, além de buscar novas mídias para realizar seu trabalho. “A partir dessas observações, fomos mudando gradativamente o Festival de Inverno neste sentido, justamente para poder buscar o novo. Começamos a construir uma base sólida para o projeto que denominamos de transdisciplinaridade”, argumenta. O professor explica que a área de artes transdisciplinares, coordenada por ele, representa uma possibilidade política, de sair das áreas tradicionais da arte e trabalhar a partir das necessidades da comunidade. As oficinas desta área são abertas à participação do público em geral, mas têm conteúdo voltado para a realidade de Diamantina. Um exemplo é a oficina de “Instrumentos musicais para congado e folia”. “É uma forma de valorizar a produção local, que é extremamente rica e musical”, comenta Fernandino. Fabrício Fernandino esclarece que a área existe desde 2000. “Nós chegávamos com uma mega estrutura, que foge da realidade daquele povo, ficávamos algumas semanas e, de repente, íamos embora. Ficava um vazio enorme no resto do ano. Precisávamos criar condição de desenvolvimento na região. É função da Universidade Federal de Minas Gerais, em todo o Estado”. Apesar da existência de uma área voltada exclusivamente para a realidade local, todos os espaços do Festival promoverão diálogo com a comunidade. “Todas as oficinas têm, necessariamente, que estabelecer uma relação íntima com a cidade e com a região. Pelo menos uma aula será aberta ao público local”, ilustra Fernandino. Os eventos culturais seguem o mesmo ritmo: o show principal de abertura será o encontro de grupos folclóricos regionais.
De um lado, a vanguarda. Do outro, a tradição. Territórios híbridos como as duas margens de um rio. Caminhando paralelos, temos a impressão de que nunca vão se cruzar, exceto se houver uma ponte, uma passagem transversal. “Em Diamantina, esta ponte vem sendo construída desde 2000, durante o Festival de Inverno da UFMG, que atua tanto no território da arte contemporânea, quanto no da cultura regional”, explica o curador geral do evento, professor Fabrício Fernandino.
“O artista hoje tem uma formação diferenciada do artista de dez, vinte anos atrás. Hoje ele tem pós-graduação. É uma condição natural, uma evolução”, reflete o curador. A constatação surgiu em 2000, no simpósio internacional Tendências da Arte Contemporânea. “Com o aparecimento de cursos de mestrado e doutorado em artes, a criação artística passou a ser lastreada em pesquisas sistemáticas”, diz.