Trabalho de João Gabriel Marques Fonseca, da Faculdade de Medicina e da Escola de Música da UFMG, aponta que técnicas musicais têm relação direta com a intensidade e o tipo de dor sofrida pelo pianista ao longo dos anos. Agência FAPESP – As técnicas musicais empregadas na execução de determinada música ao piano têm relação direta com a intensidade e o tipo de dor que o pianista pode desenvolver com o passar dos anos. Em contrapartida, não existe relação entre dor e o tempo de experiência: quanto melhor as técnicas pianísticas forem executadas, menor são as chances de o paciente desenvolver os sintomas. Esse é o principal resultado da tese de doutorado Freqüência dos problemas neuromusculares ocupacionais dos pianistas e sua relação com a técnica pianística, defendida no mês passado no Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais, por João Gabriel Marques Fonseca, professor da Faculdade de Medicina e da Escola de Música da UFMG. Fonseca analisou 93 pianistas profissionais e 51 pessoas leigas, usadas como grupo controle e que não tinham nenhuma atividade relacionada com a prática musical. O grupo de pianistas respondeu a um questionário específico sobre sintomas e dores relacionadas à prática musical e parte também foi submetida a uma avaliação sobre a técnica musical por meio de observações. Auxiliado por estudantes das duas faculdades, o pesquisador filmou os pianistas executando músicas eruditas e criou um protocolo de análise das técnicas, em que foram verificados os movimentos e gestos mais freqüentes e feita a análise de como tais posturas poderiam gerar desconforto nos músculos e membros dos profissionais. O grupo controle respondeu ao mesmo questionário dos pianistas, com exceção das perguntas técnicas sobre música. Com base nas respostas do questionário e na observação das filmagens, o pesquisador concluiu que 94% dos pianistas apresentaram algum tipo de desconforto durante a execução das músicas. “A postura e a assimetria do tronco, a intensidade das tensões musculares do braço e o posicionamento das mãos nas teclas do piano são as variáveis mais comuns e que, se não executadas corretamente, podem gerar maior índice de fadiga e desconforto”, disse Fonseca à Agência FAPESP. Segundo ele, o protocolo de análise gerado pelo estudo, que oferece 15 diretrizes para a identificação de problemas enquanto o pianista executa uma música, pode servir de referência para os médicos não especializados no tratamento desse tipo de dor. “Trata-se de um padrão de análise que oferece aos médicos alternativas para o tratamento da dor causada pela prática musical e que também oferece ferramentas para que pacientes consigam melhorar suas técnicas musicais e, conseqüentemente, diminuir a probabilidade de sentir dor”, explicou. (Matéria publicada pela Agência Fapesp em 27/07/2007)
Por Thiago Romero