Um estudo da UFMG que avalia como e com que precisão os médicos estão indicando o cateterismo cardíaco diagnóstico – ou cinecoronariografia – recebeu menção honrosa no Epiprêmio 2007, o Prêmio de Incentivo ao Desenvolvimento e à Aplicação da Epidemiologia no SUS, realizado em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A tese de doutorado Comparação da adequação das indicações de cinecoronariografias diagnósticas eletivas entre os sistemas de saúde público e privado no estado de Minas Gerais, de autoria do clínico geral Roberto Veloso Gontijo, foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, em dezembro de 2006. A pesquisa mostrou que, tanto no sistema público quanto no privado, cerca de 60% dos pacientes submetidos ao cateterismo não apresentavam doenças cardiovasculares que necessitassem intervenção cirúrgica. E que a melhor avaliação dos pacientes poderia evitar desperdício de recursos na realização de cateterismos com indicação duvidosa ou inadequada. Gontijo constatou que o número de cateterismos aumentou 17,8% entre 2004 e 2005 em uma cooperativa de trabalho médico de Belo Horizonte. A remuneração média pelo exame é R$ 1.886. Já no SUS há pouca variação anual no número de cateterismos. Existe uma cota fixa para os hospitais conveniados, que realizam aproximadamente 7 mil exames por ano na capital mineira, ao custo de R$ 504 por paciente. Alternativas Gontijo ressalta que existem outros exames menos invasivos para avaliar se o paciente tem problema cardíaco, antes da realização do cateterismo. A primeira opção seria o teste ergométrico (exame da esteira), depois o ecocardiograma sob estresse (um tipo de ultra-som) ou a cintilografia do coração (injeção de substância de contraste, sem o uso do cateter). “Os médicos estão pulando as etapas seqüenciais sugeridas nas diretrizes internacionais e da Sociedade Brasileira de Cardiologia e não estão caracterizando adequadamente o tipo de dor do paciente durante a entrevista. É preciso conversar mais com o paciente”, afirma. O pesquisador esclarece que nem sempre a dor no peito tem origem cardíaca. Ela também pode ser causada por problemas digestivos, pulmonares e emocionais, por exemplo. Reconhecimento Gontijo espera que o prêmio possa dar repercussão à pesquisa, principalmente entre os médicos clínicos e cardiologistas, que são os principais solicitantes do cateterismo. O resultado desejado é a conscientização dos profissionais, no sentido de respeitar as normas de indicação do cateterismo estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e pelas sociedades internacionais. O professor Nilton Alves de Rezende, orientador da tese de doutorado, também disse estar orgulhoso com o prêmio e acredita que isso é resultado da seriedade do Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da UFMG. “O Programa não se preocupa apenas com a formação de bons pesquisadores, mas também com o desenvolvimento de trabalhos relevantes para a sociedade brasileira, os verdadeiros financiadores das pesquisas em nosso país”. (Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG)
O procedimento consiste na introdução de um cateter para estudar o grau de obstrução das artérias coronárias. O médico acompanha tudo por meio de um monitor de vídeo. O exame permite detectar problemas coronarianos cujo sintoma principal é a dor no peito, chamada de angina. Mas ele é considerado invasivo e em 2% dos casos podem ocorrer complicações: hemorragia local, perfuração da artéria coronariana, derrame cerebral, infecção e até infarto. O risco de mortalidade fica em torno de 1%, porque o cateter vai direto ao coração.
Para Roberto Veloso Gontijo, a menção honrosa do Epiprêmio é a “coroação” de um trabalho que ele caracteriza como árduo. Afinal, segundo ele, trata-se de questionar condutas que estão arraigadas na “classe médica”.