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Apenas 39% dos pacientes com HIV atendidos no Hospital das Clínicas prosseguem com o primeiro regime de medicamentos, tratamento mais eficaz contra a doença. Os efeitos colaterais são a principal causa de interrupção do tratamento de portadores do vírus HIV, seguida da dificuldade de adaptação dos pacientes e da falha terapêutica - inerente à resposta dada pelo organismo de cada pessoa. Impacto O primeiro regime é o que tem mais chances de durar, segundo Flávia. Ela explica que se o paciente não se adaptar a esse regime é feita uma "combinação individualizada", a partir dos 17 medicamentos anti-retrovirais liberados para prescrição no Brasil. O problema é que à medida que são feitas novas combinações, as chances de eficácia diminuem, além de aumentar o custo do tratamento. O estudo reforça, portanto, as recomendações do Ministério da Saúde, mostrando que o método adotado pelo governo ainda é o mais eficaz, conforme análise da pesquisadora. Apesar disso, de acordo com a pesquisa, ao longo de dois anos, apenas 39% dos pacientes continuavam utilizando o primeiro esquema anti-retroviral combinado. Pobreza Greco ressalta que no Brasil existem algumas particularidades que levam ao abandono do tratamento contra a AIDS. "A pobreza é o pano de fundo. Há casos de pacientes que deixam de ir ao hospital porque não têm dinheiro para a condução", exemplifica. A médica faz questão de dizer que a situação do Brasil não é pior do que a de outros países, na medida que aqui os resultados ao tratamento são semelhantes aos conseguidos internacionalmente. A pesquisadora lembra que o Brasil é modelo no combate à AIDS, oferecendo inclusive medicamentos e exames gratuitos à população.
As conclusões fazem parte de um estudo realizado a partir da análise de 891 prontuários de pacientes, selecionados entre mais de dois mil, no Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas e Parasitárias Orestes Diniz (CTR-DIP), no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte. A dissertação de mestrado foi realizada pela médica especialista em infectologia Flávia Andrade Ribeiro, no Programa de Infectologia e Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da UFMG.
Flávia é coordenadora do Projeto Horizonte (http://www.medicina.ufmg.br/projetohorizonte/), ao lado do professor Dirceu Greco, também orientador da pesquisa. O Projeto, desenvolvido pela UFMG desde 1994, estuda a infecção pelo HIV entre homens homossexuais e realiza testes de vacinas preventivas com voluntários.
A pesquisa de Flávia Ribeiro avaliou o impacto do primeiro regime de medicamentos, um coquetel com no mínimo três drogas, adotado no tratamento dos pacientes. Segundo a infectologista, normalmente o primeiro regime segue as recomendações do Ministério da Saúde, combinando os anti-retrovirais Zidovudina (AZT), Lamivudina (3TC) e Efavirenz (EFZ) – este último teve a patente quebrada recentemente e deve começar a ser produzido no País no ano que vem.
A infectologista associa esse índice ao número elevado de comprimidos e o alto índice de toxidade dos medicamentos, criando a necessidade real de drogas que causem menos intolerância", analisa a infectologista. Para Dirceu Greco, a importância do estudo está no fato de o mesmo delimitar a melhor compreensão deste que é o maior problema de saúde pública do mundo.
A maioria dos pacientes envolvidos na pesquisa realizada no Hospital das Clínicas eram homens solteiros, com formação até o Ensino Fundamental e renda de até dois salários mínimos. "A nossa população tem obstáculos que outras não teriam. A falta de recursos financeiros, a escolaridade baixa, dentre outros. O tratamento começa em uma fase já avançada da doença", afirma Flávia Andrade Ribeiro.
A infectologista espera estimular outros estudos que avaliem o impacto do tratamento na população e, com isso, criem alternativas que garantam maior sobrevida dos portadores da AIDS. Atualmente, a AIDS é quarta causa de morte no mundo. A doença provoca a morte de aproximadamente 11 mil pessoas no Brasil. Em 2006, Belo Horizonte ocupava o terceiro lugar em número absoluto de casos notificados de AIDS entre os municípios brasileiros, com 13.733 casos.
(Com informações da Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG)