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As doenças neuropsiquiátricas em idosos, como depressão, ansiedade e demência, freqüentemente são diagnosticadas e tratadas inadequadamente. A afirmação é de estudo que está sendo apresentado no 13º Congresso da Associação Internacional de Psicogeriatria. O evento é o mais importante congresso científico na área que pesquisa doenças como Alzheimer, depressão e ansiedade, e acontece em Osaka, no Japão, desde ontem, dia 14, até quinta-feira, 18 de outubro de 2007 Desenvolvido pelo médico geriatra Flávio Chaimowicz, professor da Faculdade de Medicina da UFMG, e pelas médicas Teresinha de Jesus Xavier Martins e Denise Freire Assumpção, do Programa Saúde da Família de Campo Belo (PSF), o estudo focou o perfil de utilização de medicamentos psicoativos em idosos com idade a partir de 65 anos, residentes no cidade de Campo Belo, no interior do Estado. Em nove meses de pesquisa, foram avaliados 161 idosos que faziam uso regular de medicamentos psicoativos, como calmantes, antidepressivos; medicamentos para evitar convulsões e para tratar doença de Parkinson ou doença de Alzheimer. Como quesito, foram avaliados o tipo de medicamento, a dose, e se a utilização era regular ou não. Medicamentos inadequados Apesar de 11% dos idosos apresentarem sintomas de depressão, como tristeza ou desinteresse por atividades que antes realizavam com prazer, menos de 3% dos idosos usavam antidepressivos, o que sugere que muitos casos de depressão não estavam sendo adequadamente diagnosticados ou tratados. Alguns idosos estavam sendo medicados com placebos (medicamentos sem nenhuma eficácia comprovada). Segundo o estudo, é provável que idosos com queixas típicas de depressão estivessem usando os placebos para tentar controlar estes sintomas. O mesmo fato foi verificado em relação ao Mal de Parkinson e de Alzheimer. A pesquisa revelou que nenhum idoso utilizava medicamentos para as doenças. Quadros de agitação nestes casos normalmente são evitados pelo tratamento com antidepressivos de qualidade ou mesmo com neurolépticos. Os autores verificaram que é possível que idosos sem tratamento com Doença de Alzheimer estivessem apresentando quadros de agitação e sendo tratados inadequadamente com calmantes. A pesquisa verificou também que os idosos recebem tratamento inadequado para hipertensão. Segundo os estudos, de cada 6 idosos hipertensos, 1 utiliza metildopa, medicamento que atua no sistema nervoso central. Entre os seus efeitos, podem ocorrer sedação e reduções súbitas de pressão, aumentando o risco de quedas. Problema nacional O médico chama a atenção para o fato de que os problemas observados não são exclusivos de Campo Belo. "Muito provavelmente eles ocorrem em outros municípios do Brasil. A abordagem adequada dessa situação poderá contribuir para melhorar a qualidade de vida dos idosos, sendo a eles oferecido tratamento mais adequado para depressão, ansiedade e doença de Alzheimer", conclui. Para Chaimowicz, teve papel importante para o início de uma mudança de mentalidade popular na comunidade. A pesquisa antecedeu uma campanha para melhorar o uso de medicamentos entre os idosos da região. “Depois que recolhemos os dados, buscamos conscientizar a população sobre os perigos do mau uso dos medicamentos. A pesquisa também se preocupou em modificar esse quadro”, diz. (Com informações da assessoria de comunicação da Faculdade de Medicina)
Em relação ao uso de calmantes, a pesquisa constatou que quase 10% da população analisada utiliza benzodiazepínicos, calmantes de meia-vida longa, contra-indicado para idosos, que pode provocar sonolência, sedação, prejuízo da memória, além de aumentar o risco de quedas. O termo “meia-vida longa” indica que estes medicamentos são eliminados muito lentamente do organismo.
Para Chaimowicz, o padrão de consumo apresentado na pesquisa possui varias causas prováveis. Entre os calmantes e anti-depressivos, somente o diazepam e os cíclicos são disponibilizados gratuitamente pela rede pública. Hábitos antigos de prescrição são preservados pela dificuldade de acesso a programas de educação médica continuada. Outra causa apontada pela pesquisa é a ausência de disponibilidade de abordagens terapêuticas diferentes, como a psicoterapia, que acaba limitando as opções de tratamento. Por fim, Chaimowicz indica que o perfil de doenças neuropsiquiátricas em idosos ainda é pouco reconhecido e valorizado.