O repúdio aos excessos que marcaram a ação da Polícia Militar na última quinta-feira, dia 3 de abril, no IGC, a solidariedade aos estudantes atingidos e a reafirmação da necessidade de apurar os fatos e responsabilidades marcaram a reunião extraordinária do Conselho Universitário da UFMG, realizada na tarde e noite de ontem – com mais de sete horas de duração –, no campus Pampulha. Os debates foram transmitidos para um telão instalado no auditório da Reitoria, depois de decisão inédita tomada no início da reunião. O Conselho divulgará até amanhã um manifesto à comunidade. O reitor Ronaldo Pena, que presidiu os trabalhos, mostrou-se satisfeito com o clima que imperou na reunião. "Mais uma vez prevaleceu o clima de coesão institucional que é a marca da UFMG", analisou Ronaldo Pena. Ele não poupou elogios aos integrantes do Conselho Universitário. "Todos revelaram seu compromisso e estima com a instituição", considerou. Os estudantes, que ocupam o prédio da Reitoria desde a segunda-feira por volta do meio-dia, estão reunidos neste momento em assembléia que tem como finalidades avaliar os resultados da reunião do Conselho e decidir pela continuidade ou não da ocupação. Apurar erros, não culpados Apesar dos 30 dias regulamentares dados para a finalização dos trabalhos da comissão, o reitor Ronaldo Pena espera que o relatório saia antes. "Sabemos que é um trabalho complexo, que pode envolver a tomada de muitos depoimentos, mas a comunidade acadêmica tem urgência", justificou o reitor. Segundo o professor Jacyntho Lins Brandão, diretor da Faculdade de Letras e membro do Conselho Universitário, os relatos dos envolvidos foram muito importantes para esclarecer o episódio e “o essencial é encontrar erros e não culpados”. Ele destaca a necessidade de, a partir dos resultados da apuração, reavaliar o convênio entre a Universidade e a Polícia Militar. “O convênio tem vantagens, mas não pode ser ao preço do risco de vivermos situações absurdas como a da semana passada”, afirma. E essa avaliação já está sendo feita pela Administração Central e pelo próprio Conselho Universitário. "Distribuímos uma cópia do convênio a cada conselheiro para estudá-lo com profundidade", informou o reitor. Segundo ele, três hipóteses serão colocadas na mesa: o cancelamento do convênio, sua manutenção ou sua reformulação. "Este último me parece o caminho mais provável", analisou o reitor. Para ele, não é possível, nos dias de hoje, prescindir da presença da PM quando ela se fizer necessária. "O que não se pode admitir, em hipótese alguma, são as cenas de violência registradas na semana passada". Abuso de poder Avanços Para Jacyntho Lins Brandão, a reunião deixou claro “um sentimento generalizado de reprovação aos acontecimentos”. Apesar dos ânimos exaltados, que ele considera naturais dadas as circunstâncias, “a reunião foi conduzida de forma perfeita e o Conselho mostrou mais uma vez grandeza e clarividência”. Escolhido para compor o grupo que vai redigir o manifesto do Conselho Universitário, Jacyntho revela que será uma peça curta e contundente, repudiando os excessos, defendendo a liberdade de expressão, reafirmando o compromisso com a apuração dos fatos e a assistência aos estudantes atingidos.
Uma das decisões tomadas ontem foi a ampliação da Comissão de Sindicância que vai apurar o caso, com prazo de 30 dias para apresentar resultados. Formada inicialmente por dois professores e um estudante, a Comissão passou a ser composta por mais um estudante e um professor, além de um técnico-administrativo. A Comissão original foi nomeada no dia seguinte (sexta, dia 4) ao episódio do IGC.
Ronan Gontijo, servidor da Universidade e também membro do Conselho, relata que não ficaram dúvidas sobre certos pontos. “Está claro que houve abuso de poder na intervenção da PM, além de uma seqüência de erros em torno do episódio”, ele diz. Ronan concorda com a decisão de não se afastar a diretoria do IGC, uma das reivindicações dos estudantes. “Seria um pré-julgamento totalmente sem sentido”, ele define.
O reconhecimento institucional da necessidade de se discutirem questões ligadas às minorias na UFMG e o compromisso do reitor Ronaldo Pena de se envolver pessoalmente numa discussão mais ampla sobre segurança pública foram considerados avanços do ponto de vista dos estudantes, segundo Leandro Rios, do Diretório Central dos Estudantes (DCE), que tem assento no Conselho Universitário. Ele considera, porém, que os alunos foram desrespeitados com a nomeação para a comissão, pela vice-reitora Heloísa Starling, de um estudante que não representa o DCE (o segundo representante será escolhido em assembléia).