Foto: www.ivic.ve |
Lolybell Negrín e Marcílio Lana, Caracas (Venezuela) - Durante a Conferência Regional de Educação Superior (CRES 2008), realizada em Cartagena das Índias, na Colômbia, entre 4 e 6 de junho, uma das dez mesas temáticas será sobre "Educação Superior, Ciência e Tecnologia na América Latina e Caribe no Contexto Internacional". Hebe Vessuri, que coordenou debates sobre o tema e que deram origem à publicação “Tendências da Educação Superior na América Latina”, que integram a base de documentos da Conferência, defende, sem fazer rodeios, a democratização da ciência, da tecnologia e da inovação. Para a pesquisadora, que atualmente dirige o departamento de Estudos da Ciência do Instituto Venezuelano de Investigações Científicas (IVIC), em Caracas, a CRES 2008 é um marco para a inclusão explicita da ciência, tecnologia e inovação na agenda do ensino superior na América Latina e no Caribe. “Estes temas escapam, de alguma maneira, da educação superior, mas têm uma interface muito profunda com ela, porque o conhecimento se ensina, se reproduz e muitas vezes se produz nos contextos universitários”, determina doutora em Antropologia Social pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. Para Heve Vessuri, é muito importante que a CRES 2008 tenha escolhido ciência, tecnologia e inovação como um de seus temas. “Este é um elemento inovador. Necessitamos saber como manejá-la e como desenvolvê-la melhor para fazê-la mais pertinente aos problemas da região”, completa. Telescópio invertido Apesar da constatação, a pesquisadora é uma otimista. Ela acredita no potencial da América Latina e do Caribe e aposta, também, na CRES 2008 como uma janela para os pesquisadores. “Vamos nos surpreender e descobrir que perto de nós acontecem coisas muito interessantes, valiosas e inovadoras. Com freqüência educamos nossos estudantes como se viéssemos ao mundo com um telescópio invertido. Enxergamos perto o que esta longe, no que se refere ao mundo desenvolvido, e vemos muito longe o que esta à nossa volta. Essa é uma distorção de visão que afeta a nossa realidade científica. É preciso descobrir a atividade da região, estimulando a produção”, defende Vessuri. Mas a pesquisadora faz um alerta. Para ela, em eventos semelhantes à Conferência Regional de Educação Superior, muitas palavras são ditas, há boas intenções, mas frequentemente acaba prevalecendo uma retórica entusiasta. “Necessitamos de compromisso que vá além das boas intenções. São necessários compromissos reais que têm que ser assumidos pelos governos e por aqueles que, em nossos países, caberá tomar as decisões estratégicas”.
Na avaliação da diretora do departamento de Estudos da Ciência do Instituto Venezuelano de Investigações Científicas, na América Latina existem bons exemplos de experiências de desenvolvimento de ciência e tecnologia, mas ainda falta muito para a região atingir, como um todo, um estágio de maturidade. “Existe um atraso muito grande em muitos lugares devido às circunstâncias dos países, mas também encontrei áreas em universidades nas quais se trabalha em ciência e tecnologia”, relata. Mas, para Vessuri, o cenário ainda é muito desigual e, portanto, há uma demanda urgente pela democratização, com qualidade, do conhecimento produzido na região.