Uma máquina gigante em formato de broca que perfura o solo e é movida pela energia dos gritos dos manifestantes que estão dentro dela. O projeto – claramente conceitual, sem pretensões pragmáticas – de três alunos da Escola de Arquitetura da UFMG venceu a disputa com outras equipes brasileiras em concurso promovido pelo Festival de Arquitetura de Londres, com intermediação da Embaixada do Brasil na Inglaterra. O desafio proposto foi imaginar um espaço de manifestações em Brasília e a equipe idealizou o “Dispositivo Espacial de Protesto”. Como prêmio, Daniele Mendes, Igor Bernardes e Ligia Pinto, do 8º período, viajam no próximo dia 18 para Londres com passagens e hospedagem pagas, e terão seu trabalho exposto no pavilhão dedicado ao Brasil no evento, que acontece de 20 de junho a 20 de juho. O paradoxo de se pensar em um espaço de protestos em Brasília gerou a idéia. “Na verdade, não há como se projetar um lugar que determina onde as pessoas devem se manifestar. O protesto é, por natureza, imprevisível. Demarcar um lugar assim é uma contradição. Por isso, recorremos à abstração”, explica Lígia Pinto. A função do dispositivo seria transportar os manifestantes para o espaço subterrâneo. Ele assume o formato de uma broca, que perfura o solo em movimentos calculados pela medida “rpm” (“re-voltas por minuto”). E o combustível da máquina seria a energia sonora gerada pelos gritos dos manifestantes. Para o grupo, “esta é uma metáfora que significa levar o protesto e a manifestação para um “não-lugar”, ou seja, o lugar negativo, que está afastado da lógica de tudo aquilo contra o que se está protestando”. Versatilidade Júlia Miranda destaca ainda a visibilidade internacional conquistada pela UFMG e os benefícios gerados pelo processo de discussão e motivação que envolveu alunos e professores. “O resultado final mostrou a versatilidade de nossos alunos, que se mostraram prontos também para uma missão pouco comum, de característica conceitual e combinada com outras áreas do saber”, ela afirma.
Para a professora Juliana Torres de Miranda, coordenadora do concurso na UFMG, que envolveu 17 equipes, o projeto vencedor estava de acordo com o que foi proposto. “A idéia do concurso era instigar os alunos a pensar em uma arquitetura experimental e investigativa. Esperávamos trabalhos inventivos e, ao mesmo tempo, com postura crítica”, ela diz. O concurso teve ainda participantes da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Três grupos da UFMG foram pré-selecionados em duas etapas por um grupo de professores da própria Escola de Arquitetura, e seus trabalhos foram enviados a Londres.