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“É inútil lutarmos pelos direitos humanos se não nos preocuparmos com a água, que não deve ser tratada como propriedade de poucos, mas como bem comum da humanidade. O acesso à água deve ser direito de todos”, disse hoje, na UFMG, a ambientalista e ex-primeira-dama da França, Danielle Mitterrand. A presidente da Fundação France Libertés falou esta manhã a cerca de 300 pessoas na Reitoria da Universidade, em conferência que integra o ciclo Sentimentos do Mundo. Ela explicou que a Fundação passou a concentrar suas ações sobre as questões ambientais, e particularmente a água, porque é preciso que se façam pressões sobre os governos e empresas no sentido da mudança do modelo de gestão. “As políticas em torno da água se tornaram fundamentais. Não podemos continuar tratando esse recurso da mesma forma, e este é o momento de escolhermos as soluções para a preservação da vida humana no planeta”, afirmou. Danielle Mitterrand, que se reúne esta tarde com pesquisadores da UFMG na área de recursos hídricos, defendeu o intercâmbio e a parceria entre organizações como a France Libertés e a academia. “Juntos, podemos sensibilizar e mobilizar a sociedade para a adoção de um novo paradigma relativo à sustentabilidade”, ela disse. O reitor da UFMG, Ronaldo Tadêu Penna, definiu a visita da ex-primeira dama como a primeira ação do Instituto da Água, recém-criado pela Universidade com o objetivo, segundo ele, de “integrar os muitos grupos de trabalho envolvidos com estudos sobre o tema na instituição, em áreas diversas como engenharia, geologia e ciências biológicas”. Princípios Durante a conferência, a ambientalista instigou o público ao questionar por que falta água potável no planeta, se a água é parte da Terra assim como do corpo humano. “Os lençóis freáticos, as nascentes, os rios estão poluídos, porque as políticas mundiais estão baseadas em produzir cada vez mais, em busca de riqueza material. Nossa riqueza verdadeira é a vida”, afirmou Danielle Mitterrand. Segundo dados da France Libertés, 34 mil pessoas morrem por dia no mundo por falta de água potável de qualidade. E para dar acesso à água a toda a população do planeta, seriam necessários investimentos de US$ 10 bilhões de dólares em dez anos, 0,7% do US$ 1,5 trilhão gastos com armas. Com os explorados Através da Fundação, e aproveitando as experiências acumuladas, segundo ela, sua luta é “pelos direitos e e pela autodeterminação dos povos”. Ela revelou que gostou do que viu em escolas de Minas Gerais, “que procuram ensinar às novas gerações a importância de tratar a água com base em outros valores. Esta é a nossa missão”, disse Danielle Mitterrand. “Precisamos utilizar o dinheiro mais como ferramenta e menos como valor, e erradicar a especulação para que seja possível restabelecer o equilíbrio do meio ambiente.”
"A privatização dos serviços de água me preocupa"
Danielle Mitterrand defendeu a adoção de três princípios na gestão da água. “Em primeiro lugar, precisamos nos convencer de que água não é mercadoria, é vida. Além disso, temos o dever de restituir a água à natureza em sua máxima pureza. Por último, o gerenciamento das estratégias de gestão deve ser responsabilidade dos governos”, explicou. De acordo com Danielle, embora a empresa privada tenha papel importante na construção da sociedade do futuro, ela não pode substituir o poder público. “A privatização dos serviços de água me preocupa”, ela revelou.
Auditório acomodou cerca de 300, que acompanharam atentamente o debate
A ex-primeira-dama francesa contou que tem freqüentado universidades para divulgar suas idéias, ressaltando que ela mesmo não chegou a cursar uma. Nos anos em que percorreu o mundo ao lado do marido, o ex-presidente François Mitterrand, Danielle diz que viu e ouviu muita coisa. “Não me agradava o conforto do poder, e me deixei impregnar pela situação das populações marginalizadas e exploradas. Percebi que meu lugar é junto deles.”