A UFMG foi palco hoje do debate Democracia, raça e pobreza, que integra o fórum Veja 40 anos nas Universidades, comemorativo das quatro décadas de fundação da revista da Editora Abril. Durante duas horas, os professores Fábio Wanderley Reis (UFMG) e Ricardo Henriques (Universidade Federal Fluminense) e o rapper MV Bill falaram sobre o tema e responderam perguntas de alguns dos mais de 250 estudantes que lotaram o auditório Neidson Rodrigues, na Faculdade de Educação (FaE). A discussão foi mediada pelo repórter da Veja José Edward. Os três debatedores concordaram que não existe democracia social no país e que o racismo continua presente na sociedade brasileira, mas divergiram sobre as formas de enfrentar esses problemas. Fábio Wanderley Reis, que é cientista político e professor emérito da UFMG, criticou a "racialização" do debate sobre a desigualdade e a pobreza, expressa, por exemplo, nas políticas de cotas. Para ele, esse tipo de postura pode assumir caráter de confronto entre negros e brancos, até mesmo na porção mais pobre da população, principal beneficiária das ações afirmativas. Reis citou Cuba como exemplo de país que conseguiu reduzir desigualdades sociais sem políticas de viés racial. Ricardo Henriques, que dá aulas no Departamento de Economia da UFF e é assessor da Presidência do BNDES, defendeu, ao contrário, as políticas de ação afirmativa, entre elas as cotas para negros em universidades. Na opinião do professor, as cotas têm o papel de "acelerar o tempo histórico", para reduzir desigualdades raciais. Ele lembrou que os níveis de escolaridade no Brasil cresceram tanto entre brancos quanto entre negros, mas a diferença entre anos de estudo nas duas faixas permanece a mesma de quase um século atrás. Segundo Henriques, o pior no racismo brasileiro não é a perspectiva de confronto, mas o silêncio em torno do tema. Identificação Na UFMG o fórum Veja 40 anos nas Universidades tem coordenação do professor Eduardo Rios Neto, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face). Os debates em cada instituição de ensino superior são pautados por diferentes temas, escolhidos durante o seminário O Brasil Que Queremos Ser, realizado em setembro, em São Paulo.
MV Bill, cantor e compositor de rap e um dos fundadores da Central Única de Favelas (Cufa), afirmou que as cotas não são o ideal, mas têm a capacidade de promover uma reparação histórica. Para ele, só o fato de elas gerarem discussão sobre o racismo já representa um avanço. MV Bill disse, ainda, que "racializar" o debate sobre a desigualdade social não significa estimular o confronto ou a separação entre negros e brancos, mas permitir aos negros identificar o que eles são e representam na sociedade brasileira.