Reduzir o risco cardiovascular gerado por fatores psicossociais é um dos grandes desafios para o futuro, segundo a professora Marilda Novaes Lipp, da PUC de Campinas. Em apresentação no início da tarde de hoje durante o Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG, ela falou sobre teorias que relacionam o estresse a doenças em geral e especialmente sobre os resultados de pesquisas realizadas no Laboratório de Estudos em Psicofisiologia do Estresse, que coordena na PUC. Graduada em psicologia, com mestrado e doutorado na Universidade George Washington, nos Estados Unidos, a pesquisadora revelou que os portadores de doenças coronarianas têm traços de personalidade definidos, como a tendência à raiva e a dificuldade de compreender e expressar suas emoções. De acordo com Marilda Lipp, seus 20 anos de pesquisa sobre o tema permitem afirmar que a maioria das pessoas que sofrem de hipertensão têm como características a inassertividade (falta de habilidade para defender seus pontos de vista), a alexitimia (incapacidade de expressar emoções), a raiva e grande vulnerabilidade ao estresse. “A raiva é fator independente ligado a várias doenças, e há estudos fora do Brasil – um deles envolvendo 13 mil adultos – que comprovam que ela aumenta em três vezes a probabilidade do enfarte”, disse Marilda Lipp, que mencionou ainda pesquisa que detectou o desenvolvimento precoce da hipertensão em adolescentes que reprimem seus impulsos agressivos. Segundo ela, o sentimento é igualmente nocivo para quem o expressa de forma exagerada e para aqueles que não conseguem "pôr para fora". A recomendação gerada por suas pesquisas é o que ela chama de “ação responsável”, que seria a expressão adequada da raiva. Marilda Lipp contou que o laboratório da PUC tem tido sucesso ao promover um treinamento cognitivo para lidar com a raiva. “Depois da interpretação de determinado evento, a pessoa apresenta alterações físicas e emocionais. O treinamento ensina, entre outras coisas, a identificar os primeiros sinais”, explica Marilda Lipp. Nova especialidade Tosta, que é doutor pela Universidade de Londres, apresentou a cerca de 120 pessoas que lotavam uma das salas ocupadas pelo Congresso o que seria a psiconeuroendocrinoimunologia, especialidade nova que contempla o papel das emoções sobre alguns dos principais sistemas do organismo. Defendeu a saúde como conseqüência do equilíbrio físico, mental, espiritual e social. “Esta é uma idéia a um só tempo muito antiga e moderna, que pode ser comprovada pelos resultados positivos de um tratamento de pacientes com câncer de mama que aliou às terapias convencionais 12 semanas de pratica da yoga”, afirmou o professor. O Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG teve início na última quarta-feira, dia 12, e prossegue até amanhã (sábado, 15), na Faculdade (avenida Alfredo Balena, 190) e locais como a Praça JK, em Belo Horizonte. Cerca de mil profissionais e estudantes de áreas diversas participam das atividades do evento. Conheça aqui a programação.
A relação entre as emoções e as doenças foram o foco da palestra que se seguiu, apresentada pelo professor de imunologia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Eduardo Tosta. Após citar a comprovação científica da interligação dos sistemas imunitário, endócrino e neural, explicou que o estresse crônico é uma doença sistêmica que se traduz em aspectos diferentes como diminuição das defesas, alergias, males como a osteoporose e perda de memória e libido.