"Um diretor de hospital público que tiver verba para comprar canetas e usá-la para comprar remédios pode ser punido por desvio de recursos. Se deixar os doentes morrerem sem remédios, ele está correto burocraticamente, mas errado moralmente". A frase, do físico Luiz Pinguelli Rosa, pode ser lida em artigo de sua autoria publicado ontem, 16, no jornal Folha de S.Paulo. No texto, intitulado Saúvas e fundações, Pinguelli, que é também diretor da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia) da UFRJ, recorre a metáforas de Saint-Hilaire, Lima Barreto e Mário de Andrade para refletir sobre o embate histórico entre a necessidade de desenvolvimento do país e a cultura burocrática que corrói e atrasa o processo. O professor lembra que uma das medidas gestadas pela sociedade para combater a "mentalidade bacharelesca e burocrática, um dos males do Brasil", foi a instituição de um sistema nacional de ciência e tecnologia, na década de 1950. "Foram criadas fundações para a execução de projetos de pesquisa nas universidades, instituiu-se uma Lei das Fundações e fez-se a Lei de Inovação Tecnológica para agilizar ações que a burocracia impede com suas disposições conflitantes". No entanto, alerta Pinguelli, a mudança em dispositvos que disciplinam legalmente as fundações pode fazer retroceder o desenvolvimento da ciência e tecnologia hoje em curso nas universidades federais. "Se não reagirmos, outras restrições virão, até que se proíba tudo que não seja a rotina da burocracia", afirma, antes de elogiar a atitude tomada por alguns dirigentes da área acadêmica, incluindo o da UFMG: "Como fizeram corajosamente os reitores da Ufpa e da UFMG e os presidentes da SBPC e da Academia Brasileira de Ciências, temos de reagir para que a universidade brasileira não tenha um triste fim, com a morte da pesquisa científica e tecnológica, sufocada pela burocracia que Lima Barreto satirizou". Acesse aqui o texto completo.