Universidade Federal de Minas Gerais

Convênio promoverá o desenvolvimento industrial de medicamento inovador contra o câncer

quarta-feira, 18 de março de 2009, às 11h54

Convênio de cooperação técnica assinado com a empresa Eurofarma Laboratórios Ltda para desenvolvimento em escala piloto, na Faculdade de Farmácia, campus Pampulha, de uma nova combinação farmacêutica que utiliza nanotecnologia no tratamento de câncer.

Desenvolvido pela professora Mônica Cristina de Oliveira, do setor de Farmacotécnica do Departamento de Produtos Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia, o novo tratamento utiliza lipossomas – nanopartículas lipídicas, semelhantes às células – para transportar fármacos no organismo até as áreas afetadas por tumores.

Segundo a pesquisadora, nos tratamentos convencionais os quimioterápicos, altamente tóxicos, circulam por todo o organismo, atuando inclusive em partes onde não há tumores. "Com essa tecnologia, buscamos aumentar a eficácia dos tratamentos já existentes, reduzindo a toxicidade e a dosagem do medicamento utilizado", explica Mônica Oliveira.

A pesquisa foi antecipada pelo Boletim UFMG em 2005, na reportagem Expresso lipossoma

Transferência
A empresa Eurofarma, vencedora do edital de oferta pública de transferência de tecnologias publicado pela UFMG em 2008, detém o direito de desenvolvimento de produtos farmacêuticos com a tecnologia desenvolvida pela professora Mônica Oliveira. “A empresa fará estudo piloto para posterior produção em grande escala”, explica a professora, ao informar que estudos preliminares de preparação piloto da nova formulação farmacêutica já foram realizados, assim como estudos pré-clínicos relacionados à avaliação de toxicidade, biodistribuição, eficácia antitumoral em modelo animal.

A novidade da tecnologia é o sistema de entrega do agente quimioterápico (cisplatina) no organismo, ou seja, a técnica de liberação controlada de fármacos, especificamente nas áreas afetadas, por meio de lipossomas pH-sensíveis. O tratamento utiliza o fármaco cisplatina, já usado em tumores de próstata, cabeça, pescoço, pulmão, ovário, bexiga e em carcinomatose peritonial (metástase que advém de câncer que se espalha na região do peritônio).

Segundo a professora Heloíza Helena Ribeiro Schor, coordenadora do Setor de Transferência de Tecnologia da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CT&IT) da UFMG, a negociação com a Eurofarma Laboratórios Ltda se deu nos moldes da Lei de Inovação vigente no país, além de atender às exigências da Resolução 10/95, do Conselho Universitário da UFMG. “Desde 1995, a UFMG tem regras para o processo de transferência de tecnologia”, destaca a professora.

De acordo com a Resolução, a empresa paga um valor no ato do licenciamento, e permanece pagando royalties, que são assim distribuídos: um terço para os inventores, um terço para a unidade acadêmica de origem da pesquisa (no caso, a Faculdade de Farmácia), e um terço para financiamento de projetos de pesquisa, inovação e transferência de tecnologias na Universidade.

Com relação ao convênio de cooperação técnica assinado recentemente entre a Faculdade de Farmácia e a empresa Eurofarma, Heloíza Schor afirma que se trata de acordo inédito, que inclui a Faculdade – e portanto seus alunos – no processo de desenvolvimento industrial de um medicamento. “A Eurofarma ganhou projeto da Finep, e os recursos serão utilizados para os estudos pilotos, no laboratório de Farmacotécnica da Faculdade de Farmácia, em parceria com empresas nacionais e internacionais”, acrescenta.

Testes
Para chegar ao novo medicamento, a pesquisadora Mônica Oliveira realizou estudos com os constituintes mais apropriados à associação, de acordo com a via onde serão injetados. Foram testados a concentração dos componentes, métodos de preparo e tamanho das nanopartículas, entre outras variáveis.
O maior desafio, segundo a professora Mônica Oliveira, é programar os lipossomas para burlar o reconhecimento de defesa do organismo e entregar o fármaco no local desejado.

"O lipossoma funciona como uma cápsula, dentro da qual está o fármaco, e há alguns métodos para levá-lo à área afetada", diz a professora. Em um dos métodos, modifica-se a superfície do lipossoma, induzindo-o a absorver maior quantidade de água. "Com esta alteração, o lipossoma não pode ser capturado pelo fígado, pelo baço ou pela medula óssea, permanecendo na corrente sangüínea por tempo suficiente para chegar à área do tumor", explica a professora.

Também é possível adicionar constituintes que permitem que os lipossomas se desestabilizem de acordo com o pH do meio biológico e ainda ligantes específicos a cada lipossoma, permitindo sua conexão a receptores de células que se pretende atingir.

(Com assessoria de imprensa da UFMG)

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