A Reitoria da UFMG, por meio de sua Diretoria para Assuntos Estudantis (DAE), decidiu se pronunciar sobre as medidas que a instituição têm tomado contra a homofobia. A iniciativa surge após o Grupo Universitário em Defesa da Diversidade Sexual (Gudds) convocar, para semana que vem, uma série de manifestações que têm o objetivo de chamar atenção para o que avaliam como "invisibilidade que paira sobre os casos de discriminação sexual ocorridos na UFMG e na sociedade". Na Universidade, o tema da homofobia voltou a ser discutido após um estudante de Artes Visuais ter sido agredido fisicamente na moradia universitária por outro estudante, que também o chamou de “bichinha” e “viadinho”. O episódio ocorreu no dia 14 de março. Segundo Seme Gebara, diretor para assuntos estudantis, o agressor já foi excluído do Programa de Moradia e uma Comissão de Processo Disciplinar, instituída para investigar o caso e verificar se há outras punições cabíveis. O diretor ressalta ainda que a UFMG tem realizado diversas ações no sentido de promover a defesa da diversidade sexual. “O Gudds acusa a Universidade de ser conivente porque não teríamos tomado nenhuma iniciativa. Essa posição é curiosa porque estamos em contato há mais de ano, realizando atividades em conjunto e, no ano passado, ajudamos na organização de um grande seminário sobre o tema e participamos de todas as mesas para as quais fomos convidados”, afirma Seme. Além de apoiar o Gudds, o diretor informa que o tema da homofobia é abordado em oficinas, mostras e espetáculos da Recepção de Calouros desde 2006. A DAE também já organizou cursos livres sobre diversidade sexual. Além disso, a UFMG está planejando cursos de capacitação para seguranças e outros servidores da Universidade que trabalham com atendimento ao público. Seme lembra ainda que, no início deste semestre, foi enviado e-mail para toda a comunidade acadêmica repudiando trotes homofóbicos no campus. Educação social O representante do Gudds argumenta que ainda impera na sociedade uma cultura que põe os homossexuais em situação de inferioridade. “Não é uma característica pessoal intrapsicológica. O preconceito, como lógica socialmente partilhada, me impede de ver que 'eu não estou vendo'. Há ações discriminatórias que nem mesmo o autor percebe, como brincadeiras, sabotagens cotidianas, comentários jocosos e analogias. E as vítimas de tais agressões são socializadas de modo a não se sentirem no direito de cobrar respeito. A instituição deve educar as pessoas a reconhecerem tais atitudes como preconceituosas”, explica Daniel. Banco de denúncias O diretor Seme Gebara afirma que aguarda a chegada desse banco de dados o mais rápido possível. “Até agora, o Gudds diz que tem denunciado, mas apenas comunica a existência de casos de homofobia, sem explicitar nenhuma situação concreta", alega.
Daniel Arruda, mestrando em psicologia social e um dos membros do Gudds, mantém a crítica à administração da Universidade. Segundo ele, não existe uma ação incisiva de educação social e de cidadania. “A UFMG tem se esforçado para formar técnicos e acaba deixando de fomentar valores nobres de qualquer sociedade democrática, como o respeito à diferença”, alega ele. Segundo Daniel, embora a Universidade tenha anunciado a proibição de trote homofóbico, ele relata ter presenciado, no ínicio da tarde desta quinta-feira no campus Pampulha, cenas de calouros sendo orientados por veteranos a cantar música preconceituosa.
Segundo o estudante, o Gudds está organizando um banco de registros de casos de homofobia na UFMG. Ele ainda não foi concluído porque aguarda a formalização de relatos. A intenção é encaminhar as informações recolhidas à Reitoria. “Ainda não terminamos esse trabalho, porque muitas pessoas não estão à vontade para fazer o relato. Existem situações que são difíceis de expor. Há cerca de três anos, fui abordado por policiais por causa de uma manifestação pública de afeto ao meu namorado. Eles disseram que meu comportamento era inadequado. Tive vontade de sumir. É assim que a sociedade tenta impor ao homossexual a ideia de que o lugar dele não é o espaço público”, diz Daniel.