Universidade Federal de Minas Gerais

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O jornalista Luis Nassif, durante seminário na UFMG

Com a Internet o jogo é outro, diz Luis Nassif em entrevista ao Portal UFMG

quarta-feira, 27 de maio de 2009, às 18h38

O jornalista especializado em economia Luis Nassif participou hoje do seminário Jornalismo Independente – liberdade de imprensa, direito à informação e democracia no Brasil na UFMG. Blogueiro de grande visibilidade, Nassif conversou com o Portal da UFMG, e levantou questões relativas às novas mídias, principalmente à blogosfera, que marcariam o fim do jornalismo impresso convencional.

No debate sobre a imprensa, um tema que ganha relevo é a recente revogação da Lei de Imprensa. Você avalia que há a necessidade de uma nova Lei?

Nassif_3.JPGA Lei de Imprensa era favorável à mídia, porque os aspectos mais pesados que discutia, como a prisão por crime de opinião, foram revogados pela própria prática jurídica. O ponto que tratava especificamente da pessoa vitimada por ações da imprensa era a possibilidade do direito de resposta. Mesmo com a Lei de Imprensa, era algo muito difícil de se conseguir. Eu estou há um ano na Justiça para obter o direito de resposta contra a Revista Veja, e já foi negado duas vezes. A eficácia do direito de resposta está ligada à rapidez com que ela seja publicada: se é feita uma acusação e leva-se dois anos para sair o direito de resposta, é tempo suficiente para se acabar com a reputação da pessoa acusada, e, como está muito longe do fato gerador, a divulgação perde sua força. E ao invés de aprimorarem o direito de resposta, de obrigar uma decisão rápida, agora não há nem uma lei que estabeleça essa questão. Também a respeito das vítimas de acusações, a interpretação da lei, sobre indenização, acabava beneficiando a mídia: na Lei a indenização das vítimas não poderia ser motivo de enriquecimento. O que acontecia era que as indenizações passaram a ser tão irrisórias que não desestimularam a prática continuada dos crimes de imprensa. Uma nova lei teria que definir de forma mais clara essa relação dos valores, da penalização dos grupos, principalmente dos grandes grupos. Concluindo, a revogação da Lei de Imprensa de maneira geral não beneficiou a mídia, mas também não beneficiou a vítima.

Na discussão sobre a Lei de Imprensa, ela foi identificada como fruto de um governo militar ditatorial que atacava a liberdade de expressão. Você considera que estaria havendo alguma confusão entre liberdade de imprensa e liberdade de expressão?

Totalmente. Por exemplo, eu estou escrevendo uma série sobre a Veja e a revista está movendo cinco ações judiciais contra mim, obviamente para me calar. Na primeira sentença o juiz me deu ganho de causa e disse que, na ditadura, a liberdade de imprensa foi fundamental para a democracia e hoje o que se tem é a opinião dos jornais misturada com os seus próprios negócios. O fator moderador de hoje são as novas mídias, os blogs e a Internet no geral. Então, a ideia de que a liberdade de imprensa é a liberdade do veículo sempre existiu. Mas nos anos 90 havia um certo pacto entre os veículos e o leitor que fazia que se diluísse um pouco essa ideia de liberdade de imprensa ser liberdade do veículo. Com a crise financeira dos veículos, esse pacto passou a ser feito entre eles, com campanhas que deixaram muito nítidos os interesses específicos das empresas, delatados pela Internet. Hoje fica cada vez mais claro que a liberdade de imprensa não é liberdade do veículo, é o poder que tem a mídia de definir o que é noticia ou não.

As novas tecnologias que estão se disseminando – blogs, sites de relacionamento, wikipedia – criam um novo conceito da informação. Qual é o impacto que essas novas ferramentas causam nos meios de comunicação tradicionais?

Nassif_1.JPGAntes de haver a interatividade, de o leitor poder ser um agente ativo, a imprensa sempre foi fundamentalmente manipuladora. A informação em estado bruto é sem graça, aqueles que são considerados bons jornalistas hoje são aqueles que conseguem criar uma matéria interessante: enfatizando fatos interessantes, tirando frases fora do contexto, criando manchetes chamativas que não têm muito a ver com o texto em questão. Essas novas tecnologias permitiram de um lado desmascarar esse tipo de jogo justamente quando a manipulação da mídia para os seus interesses próprios atingiu o auge, e a imprensa não tem alternativa a não ser fazer um bom jornalismo. Depois permite uma multiplicidade de visões sobre um mesmo episódio que a mídia deixou de apresentar mesmo antes. A Folha de S. Paulo, por exemplo, mantinha uma diversidade, através dos colunistas com diferentes pontos de vista, e agora isso acabou. Outros jornais também assumem estrutura de panfleto único. Então é oferecido apenas um ângulo ao leitor, que vai aceitar passivamente. O máximo que pode fazer é mandar uma carta para o jornal. Na Internet o jogo é outro: se o leitor discorda, ele pode falar de imediato. Quem uma vez entra no mundo interativo não tem mais paciência de voltar para a visão passiva. Começa a desmontar essa mística de que jornalista tudo sabe. O papel do jornalista muda fundamentalmente, somos obrigados a nos expor frente ao nosso leitor, que pode nos corrigir. É necessário segurança para opinar, porque podemos ser questionados, e o jornalista deve ter humildade para reconhecer quando o leitor tem razão e mudar sua opinião. O leitor é um agente ativo agora, e os jornalões não podem fazer isso, porque é um modelo que terminou. Há um estilhaçamento da opinião pública, que vai ser fundamental para a próxima etapa de consolidação da democracia. Exemplo disso é que a mídia inteira tenta transformar o presidente do STF Gilmar Mendes em herói nacional. Se você fizer uma pesquisa nos sites dos jornais, 90% dos leitores o consideram uma figura nefasta. Essa situação deixa perceber que esse ciclo em que a mídia controlava a opinião pública terminou.

Qual seria a consequência real do descompasso entre a opinião pública e a opinião do jornal?

A desmoralização do jornal. Uma desmoralização que se dá proporcional à valorização das outras mídias. Quando se fala em fortalecimento de blogs, se se refere à blogosfera, com todo o seu espectro político, de opiniões. Em um contexto geral, a blogosfera é o exercício da diversidade. Ela permite aos leitores, críticos efetivamente, não só formar opinião como fazer isso a partir da consulta de vários blogs. A Veja, por exemplo, tem alta tiragem. O público formador de opinião, aquele mais crítico, independentemente de posição política não leva a Veja a sério. É o mesmo grupo que deixou de levar O Globo a sério. É um processo que acaba atingindo mais e mais pessoas. E a blogosfera acelerou isso. Todos as “pisadas de bola” desses veículos, manipulação, notícias erradas e assassinatos de reputação, em dois minutos estão na blogosfera. Essas demonstrações de poder absurdas vão contaminando e diluindo a influência da mídia.

Você acha que é possível fazer algum prognóstico para o futuro da imprensa, para os jornais e revistas? Ela está fadada ao fim ou teria que se reconfigurar?

Nassif_2.JPGComo imprensa escrita, está fadada ao fim. A grande discussão é em quanto tempo. Com a crise dos jornais, o modelo impresso ficou inviável, o custo é muito alto e a publicidade passa a ser distribuída pela Internet, por outros eventos. Aquele pacto entre agência de publicidade e jornal vai se esfacelar. As empresas vão ter que entrar no mundo virtual, onde o jogo é outro. É um meio em que não há necessidade do investimento pesado de capital, e então a possibilidade de aparecerem novos agentes aumenta substancialmente. Isso acaba com o controle sobre a opinião. O mesmo vai acontecer com a televisão. Hoje eu consigo montar um estúdio e transmitir pela Internet por 20 mil reais. Antes precisava de milhões, então é um jogo democratizante fantástico. E o ponto mais fantástico é que a opinião se forma através de alianças pontuais. Na minha briga contra a Veja, alguns blogs ajudaram, publicando textos de apoio. Mas se você pisar fora da linha, perde os aliados: é um jogo de legitimação permanente. Não é a mesma estrutura de a Folha de S.Paulo dar uma notícia e os jornais, tvs e rádios locais a repetirem até que ela se transforme em uma verdade. Isso acabou.

Qual a sua opinião a respeito do diploma de jornalismo. Ele deve ou não ser exigido?

O diploma é ilógico. O jornalismo é um curso muito técnico. Hoje saem das faculdades alunos muito melhores do que aparece na mídia, porque na verdade quem molda o caráter jornalístico são as redações e seus métodos. Se eu preciso contratar alguém para a Dinheiro Vivo, o perfil é o seguinte: tem que saber escrever, conhecer técnicas jornalísticas, saber ferramentas de Internet, saber como pesquisar bancos de dados e estar antenado com as novas funcionalidades criadas pela Internet. As faculdades não dão isso. Então para que serve a faculdade? É mais fácil pegar um aluno com formação ampla em história, em ciências sociais etc., e transformá-lo em jornalista ou pegar um jornalista e transformá-lo em jornalista econômico?

Existe um cenário político favorável à democratização da informação através da tecnologia?

A tecnologia trouxe a democratização. Toda a concentração de poder político no Brasil se dava através da mídia. Somente o que ganhava espaço na mídia tinha repercussão no executivo e no legislativo. Agora blogs e sites funcionam como meios de disseminar informações e ideias. No meu blog levanto temas para os leitores que nunca foram publicados na mídia. E os leitores também comentam e trazem mais informações sobre esses assuntos, ampliando a sua divulgação. Outro dia, um leitor trouxe informações sobre a cultura musical do Cariri, em pleno sertão pernambucano. Publiquei a nota e de repente eram 25 posts trazendo informações. A revolução que vai democratizar a produção de conteúdo e o acesso às informações vai se dar nas novas mídias.

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