O estigma do erro e de que nasceu em dívida em relação ao que foi prometido quando sucedeu o Império é uma característica marcante da República brasileira. A avaliação foi expressada pela professora Cristina Buarque de Hollanda, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, em conferência realizada na tarde desta terça-feira, dia 25, na Fafich. “A sensação de falta foi a marca mais forte dos primeiros anos da República no Brasil”, afirmou a pesquiosadora, que abordou a formação e a evolução da ideia de interesse público no Brasil a partir da transição do Império para o regime republicano. Inautêntica A professora destacou o Estado como elemento central da tradição republicana brasileira. “Há, sim, um protagonismo estatal, que assumiu formas diversas, sempre em posição assimétrica com relação à sociedade, com feição ora autoritária, ora democrática.” Para ela, a Constituição de 1988 ajudou a dar novo significado para a república brasileira. “O povo, além de recuperar o poder do voto, passou a se comunicar com o Estado também por outras vias. O sistema judiciário foi alargado e a vontade soberana encontrou nele um novo caminho de expressão.” Iniciativa do Departamento de Ciência Política (DCP) da UFMG, a conferência de Cristina Buarque de Hollanda – Entre o autêntico e o inautêntico: notas sobre o percurso da questão do público no Brasil republicano – é inspirada em tese de doutorado premiada pela Casa de Rui Barbosa e pelo Iuperj.
Cristina Buarque de Hollanda salientou que, apesar de assumir formas diversas ao longo dos anos, a história republicana brasileira sempre foi marcada pela premissa da inautenticidade, uma vez que os brasileiros jamais se reconheceram no modelo de república adotado, que parece não estar em sintonia com a realidade do país.