Industrialização progressiva, liberação de mercados e consequente aumento de alimentos processados tornam crescente a preocupação com a segurança alimentar, principalmente no que tange à qualidade. Esse foi o enfoque da palestra que abriu a programação do I Simpósio de Segurança Alimentar no Norte de Minas Gerais, na noite de ontem, dia 19, no Instituto de Ciências Agrárias (ICA), campus regional de Montes Claros.
Intitulada Segurança dos alimentos e a percepção do consumidor frente aos mecanismos organizacionais, a palestra foi oferecida pela professora Adriana Carvalho Pinto Vieira, da Unicamp. Ela falou sobre como as tecnologias e os processos usados ao longo de toda a cadeia produtiva de alimentos – do campo à mesa do consumidor final – podem expor a população a contaminações. Estas podem ser de origem biológica, a exemplo de toxinas liberadas por bactérias, química, como resíduos de antibióticos e metais pesados, e física, como fragmentos de vidro ou madeira que podem ser encontrados nos alimentos.
Na tentativa de controlar o processo produtivo e tentar garantir a segurança alimentar, há todo um aparato legal e de instituições e órgãos criados especificamente para esse fim. Segundo Adriana Vieira, todo esse aparato, já comumente complexo, burocratiza-se ainda mais a cada novo “episódio sanitário”. Ou seja, a cada novo episódio de contaminação alimentar que assume grandes proporções e põe em risco a saúde de expressivo número de pessoas, governos e entidades internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), criam novas exigências legais, parâmetros de qualidade, processos de certificação e órgãos específicos para cuidar do setor atingido.
Alguns dos episódios, como destaca a professora, tomam proporções mundiais, como o mal da vaca louca, a gripe aviária e a febre aftosa, que atingiu o gado brasileiro. Outro exemplo, bastante recente, desses episódios sanitários foi a adulteração de leite longa vida feita por empresas mineiras, descoberta após um processo investigativo que ficou conhecido como “Operação ouro branco”.
Adriana Vieira lembrou que essa tendência à complexidade do sistema encarregado de garantir a qualidade dos alimentos, muitas vezes, compromete sua eficiência, como acontece no Brasil, quando órgãos públicos lançam determinações e exigências conflitantes. Em sua apresentação, a professora fez um comparativo entre o ambiente institucional relacionado à segurança alimentar no Brasil e na União Européia, onde é “ligeiramente mais enxuto”.
Programação
A abertura do I Simpósio de Segurança Alimentar do Norte de Minas Gerais, na noite de ontem, foi feita pelo diretor do ICA, professor Rogério Marcos de Souza. As atividades seguem até o próximo domingo, dia 22, com a participação de professores, pesquisadores, estudantes, agricultores familiares e representantes de órgãos governamentais ligados ao setor. Na programação, estão previstas mais palestras, mesa-redonda, minicursos e workshops, além de apresentação de trabalhos de pesquisa e extensão.
O evento é uma promoção do Mestrado em Ciências Agrárias, do curso de graduação em Ciências de Alimentos, do Grupo de Estudo em Segurança Alimentar (Gesa) e do programa de extensão “Apoio a agricultores familiares no Norte de Minas Gerais em produção, higiene e saúde pública”.
Mais informações no telefone (38) 2101-7748 ou no endereço www.ica.ufmg.br.
(Assessoria de Imprensa do ICA)