Um dos idealizadores do evento Annus Caroli, que homenageia Charles Darwin e Carlos Chagas, o geneticista Sérgio Pena comparou a aventura de Darwin antes de formular a teoria da seleção natural à “jornada do herói” descrita no livro O herói de mil faces, do escritor e estudioso norte-americano Joseph Campbell, que explica a criação do "mito do herói”. “A recompensa da jornada de Darwin, ou seu 'elixir', é a teoria da seleção natural”, afirmou o professor na abertura do evento, na manhã desta quinta-feira, na Faculdade de Ciências Econômicas. Pena lembrou que Darwin era um homem de saúde frágil e que, ainda assim, suportou uma viagem de quase cinco anos para desenvolver suas pesquisas. “Darwin não era gênio, mas era extremamente organizado e comprometido”, disse ele, durante a conferência Darwin e a seleção natural, na qual discorreu sobre a importância da teoria da evolução natural no campo da biologia e em outras áreas do conhecimento. Contou também um pouco da vida do estudioso britânico e de sua viagem a bordo do navio Beagle, que lhe permitiu explorar diversos ecossistemas ao redor do globo e elaborar a teoria da seleção natural. Síntese moderna O pesquisador abordou também a importância da teoria da seleção natural para os estudos da genômica evolucionária e o debate entre as teorias darwinianas e a religião. Pena destacou o papel fundamental que os estudos de Darwin desempenharam na área das ciências humanas e no tratamento de doenças como a aids, consolidando sua relevância para diversos campos do saber. “Não existe mais uma teoria da evolução, mas o fato da evolução”, afirmou. O ciclo de palestras Annus Caroli comemora os 200 anos do nascimento de Charles Darwin e aos 150 anos de publicação de sua obra mais conhecida, A Origem das Espécies. O centenário da descoberta da Doença de Chagas pelo cientista e sanitarista brasileiro Carlos Chagas também é homenageado no seminário organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceira com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Faces e facetas O ciclo continua amanhã com uma série de discussões sobre Carlos Chagas. O professor Carlos Morel realiza a conferência introdutória O Trypanosoma cruzi, a Doença de Chagas e a evolução da ciência no Brasil. A primeira mesa-redonda conta com os pesquisadores Wanderley de Souza (UFRJ) e Eloi Garcia (Fiocruz) falando sobre ultraestrutura e interação do T. cruzi. À tarde, o professor Ricardo Gazzinelli (UFMG) aborda imunidade inata e infecção com o T. cruzi e os pesquisadores Mauro Teixeira (UFMG) e Rodrigo Corrêa-Oliveira (Fiocruz) discutem imunopatogênese e mecanismos inflamatórios. Fechando o evento, as conferências Centenário da descoberta da Doença de Chagas – Carlos Chagas e seus seguidores, com o professor Egler Chiari (UFMG), e Doença de Chagas – Novos aspectos clínicos e epistemológicos, com o pesquisador José Rodrigues Coura (Fiozcruz). A programação completa do Annus Caroli pode ser vista aqui
Segundo o professor Sérgio Pena, um dos maiores desafios da teoria de Darwin foi “sobreviver” à teoria de Gregor Mendell sobre genética e herança biológica. “Somente no início do século 20 é que as duas teorias se fundiram, gerando o que chamamos hoje de 'síntese moderna'”, explicou.
Ainda na parte da manhã, uma mesa-redonda composta pelos professores Robson Santos (UFMG), Aníbal Vercesi (Unicamp) e Paulo Sérgio Lacerda Beirão (UFMG) discutiu o tema Faces e facetas de Darwin, evolução e seleção natural, abordando a criação de fármacos, a evolução das mitocôndrias e o o papel das toxinas em sistemas coevolutivos predador-presa.
Os debates continuam nesta tarde com transmissão ao vivo pelo Portal UFMG. A professora Beatriz Barbuy (USP) realiza uma conferência sobre O Big-Bang e a evolução do universo e o professor Carlos Frederico Menck (USP) fala sobre Origem e evolução da vida na Terra.