Após dois meses de trabalho na Antártica, equipe de arqueólogos da UFMG e da USP deve desembarcar neste final de semana no Brasil, trazendo um variado material de valor histórico. “Escavamos dois sítios arqueológicos, denominados Sealer 3 e Sealer 4, ambos abrigos de pedra construídos por caçadores de mamíferos marinhos no século XIX”, relata Sarah Hissa, aluna de mestrado da UFMG que integra o grupo de pesquisadores. Os sítios ficam na ilha Livingstone do arquipélago Shetlands do Sul. Os antropólogos brasileiros estiveram acampados no local entre 15 de fevereiro e 5 de março. Ainda a bordo do navio da Marinha Almirante Maximiano, que traz a equipe de volta ao país, Hissa explicou, por mensagem eletrônica aos jornalistas da assessoria da UFMG, que os objetos coletados estão sendo transportados resfriados e que até abril deverão estar disponíveis para os pesquisadores. O conjunto ficará abrigado na Universidade. São fragmentos de cerâmica e ósseos animais, sapatos, cacos de vidro, estacas de madeira, pregos e cravos de metal, além de tecido e corda em bom estado. Por meio desse tipo de material, que fazia parte da vida do homem comum nos séculos 18 e 19, os pesquisadores poderão propor novas versões da história sobre a incorporação da Antártica ao processo de expansão da economia global. Naqueles séculos, empresas industriais competiam por mercadorias e insumos, que incluíam recursos marinhos, como as focas e baleias, registra Andrés Zarankin, professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMG e coordenador da equipe, em texto sobre Arqueologia na Antártica, publicado em 2005, pelo International Journal of Historical Archaeology, “Centenas de homens passaram seus verões trabalhando e vivendo nessas terras inóspitas e longínguas, a fim de abastecer o sempre em expansão mercado capitalista”, escreve Zarankin. O trabalho dos arqueólogos é apoiado pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar) do CNPq. Criado em 1982, o programa lançou edital para a área de ciências sociais apenas no ano passado. Foram destinados R$ 14 milhões para 19 propostas sobre biodiversidade e impactos ambientais, monitoramento do clima e da atmosfera, geologia e geoquímica, e aspectos tecnológicos, culturais e sócio-econômicos na Antártica. Coube à UFMG cerca de R$ 240 mil. A equipe coordenada por Zarankin conta ainda com o professor Carlos Magno Guimarães (Fafich), e os alunos de doutorado Ximena Villagran (USP) e de mestrado Fernando Soltys (UFMG). Luis Guilherme Rezende, doutorando em antropologia pela UnB também integra a equipe como assistente.