Artigo publicado em 16 de março pela conceituada revista científica PLoS Biology (Public Library of Science) traz conclusão pouco conhecida sobre a contribuição de políticas brasileiras na redução global de emissões de carbono provocadas pelo desmatamento e degradação de florestas. São as terras indígenas, e não os parques ou reservas naturais, que mais impactam a redução dessas emissões brasileiras na atmosfera. O estudo tem entre seus principais autores os professores da UFMG Britaldo Soares Filho e Gustavo da Fonseca – que também atua pelo Global Environment Facility, de Washington. A importância do dado é contextualizada pelos pesquisadores logo na abertura do artigo, quando assinalam que, como o desmatamento e a degradação de florestas representam cerca de 15% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), esse volume vai além das emissões produzidas por todos os carros, trens, aviões, navios e caminhões em uso no mundo. Para que mecanismos de redução de emissão – conhecidos como Redd – sejam bem-sucedidos, “as nações com florestas devem desenvolver políticas e instituições para reduzir e eventualmente eliminar o desmatamento”, registram, informando adiante que as terras indígenas e outras áreas protegidas (Ilpas) criadas para garantir os direitos à terra, aos meios de subsistência, à biodiversidade e a outros valores contêm mais de 312 bilhões de toneladas de carbono estocadas. Esse volume já sinaliza para o papel estratégico das terras indígenas no cenário mundial de controle das emissões de carbono. Mas, escrevem os pesquisadores, “fundamentalmente, e paradoxalmente, esse carbono ‘protegido’ não é totalmente protegido”, pois o desmatamento muitas vezes continua dentro das Ilpas, “especialmente no interior daquelas que carecem de recursos suficientes, capacidade de gestão, ou apoio político”. Daí a importância de desenvolver mecanismos de recompensa financeira a esses povos que vivem da floresta. O estudo se concentrou na região da bacia amazônica, devido, como alegam os autores, à sua importância para a biodiversidade global, ao seu enorme estoque de carbono e à sua “rede avançada de terras indígenas e outras áreas protegidas”. Etapas Uma segunda – e urgente – etapa, escrevem os autores, seria o estabelecimento de sistemas nacionais de controle e quantificação de taxas de desmatamento e das reduções das emissões. “No Brasil, o sistema de sensoriamento remoto e monitoramento de redes são bons modelos”, atestam. A terceira etapa consistiria na criação de mecanismos capazes de frear a exploração madeireira ilegal ou incêndios, direcionando ganhos financeiros para Ilpas individuais. “Finalmente”, defendem os pesquisadores, “os governos devem fornecer a grupos indígenas e comunidades locais informações e capacitação necessárias à sua participação” no programa Redd. Além disso, pagamentos devem ser distribuídos de forma transparente para recompensar os responsáveis pela redução das emissões. Relativamente à conclusão do estudo, eles observam que, no Brasil, as terras indígenas contribuem muito mais para Redd do que parques ou reservas naturais, porque elas possuem o triplo da área dessas unidades de conservação e, como muitas vezes situam-se nas imediações da fronteira agrícola, podem se contrapor à sua expansão. “A comunidade científica pode apoiar as nações em todos esses esforços, propondo perguntas simples com respostas diferenciadas”, defendem. Denominado Indigenous lands, protected areas, and slowing climate change, o artigo pode ser lido neste link.
Uma questão posta pelos autores refere-se a um desafio prático: visto o papel que as Ilpas desempenham no processo de mudanças climáticas, o que fazer para que os governos nacionais as incluam em suas estratégias de redução de emissão? Respondendo, eles sugerem algumas alternativas, baseando-se na experiência brasileira, de como identificar e criar Ilpas. Essa avaliação não é aleatória e deve contar com recursos técnicos, como dados espaciais e modelagens para estimar a eficácia da iniciativa.