Uma aparente contradição caracteriza a Unidade Industrial de Processamento de Plástico, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte. Ao contrário das outras fábricas que buscam matéria-prima a custos baixos, esta unidade se desdobra para desembolsar o maior preço possível pelo material reciclável coletado na região metropolitana e municípios vizinhos. Essa “anti-indústria” é a face mais vistosa do trabalho da Cataunidos, cooperativa formada por nove associações que reúnem mais de 500 catadores de material reciclável. A gestão da fábrica é apoiada pelos conhecimentos técnicos de um grupo de alunos coordenado pelo professor Francisco de Paula Lima, do Departamento de Engenharia de Produção da UFMG. Em conjunto com os catadores, a equipe elabora soluções para os problemas enfrentados tanto na fábrica quanto nas associações que recolhem os materiais. Projeto técnico, leiaute, logística, comercialização e capacitação dos catadores já foram implantados com o suporte da UFMG. Eficiência Entre outras contribuições ao trabalho desses grupos, a equipe do professor Francisco Lima percebeu, por exemplo, que os funcionários da fábrica desligavam a máquina de moagem para ajudarem a descarregar o caminhão. Além disso, as lâminas perdiam a afiação devido à sujeira do material. Hoje, a máquina funciona sem parar durante um turno. Os alunos também criaram uma etiqueta para identificar o peso e a procedência do material que chega à fábrica. O procedimento ajuda no controle da quantidade de rejeitos, permitindo que eles entrem mais limpos. “Agora descontamos da associação que manda mais de 5% do material com rejeitos. Sem o sistema, não teríamos como fazer esse controle”, comenta o administrador da fábrica, Vinícius Leite Chucre. Embora pague um preço acima do mercado pelo material que adquire, a unidade industrial da Cataunidos planeja se estruturar para ter lucro – hoje, a receita garante apenas a sua manutenção. Com isso, ela espera ter sobra de recursos para distribuir diretamente entre os catadores e financiar projetos sociais das associações. A iniciativa é apoiada pela Petrobras, Fundação Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Os catadores foram treinados para entregar o material limpo, sem rótulos e tampinhas e separado por cores, o que facilita o trabalho na fábrica. “Parece simples, mas não é. Às vezes, é preciso designar alguém só para essa tarefa, o que, numa associação pequena, pesa bastante”, exemplifica Francisco Lima. “O nosso objetivo é entrar com engenharia e gestão para melhorar a eficiência dos projetos. Juntamos a técnica com a solidariedade”, diz o professor. Com exceção da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reciclável (Asmare), em que cada catador ganha pelo que recolhe, as demais associações trabalham segundo uma lógica diferente. O montante é dividido por todos, independentemente do volume coletado individualmente, permitindo a inclusão, no rateio, de grávidas e pessoas idosas e com deficiência.