Pela primeira vez, o professor Clélio Campolina exercerá um papel duplo no tradicional Seminário de Economia Mineira, que teve início ontem (segunda, 24). Nesta terça-feira, 25, às 8h30, ele fará, como reitor da UFMG, a abertura oficial do evento. Na quarta-feira, às 9h, na condição de pesquisador da área de economia e desenvolvimento regional, Campolina presidirá a mesa-redonda Impactos regionais da crise econômica, que terá como expositores os professores Leda Paulini, da USP; Philip McCann, da University of Reading, do Reino Unido; e Andrés Rodriguez-Pose, da London School of Economics. Em entrevista ao Portal da UFMG, Campolina antecipa que fará em Diamantina uma exposição das linhas gerais do estudo que concluiu há cerca de cinco anos sobre proposta de desenvolvimento para o Brasil a partir de uma nova ordem territorial, que define como “policêntrica”. E volta a defender a construção de novo arranjo institucional entre universidades, governos e empresas para flexibilizar os processos de transferência tecnológica. “Não se pode fazer concorrência pública para transferir segredo. Nenhum laboratório ou organização baseada em conhecimento científico e tecnológico aceita expor publicamente suas condições de produção”, justifica o reitor. Percebe-se pelos estudos que serão apresentados no Seminário de Economia Mineira que a pesquisa produzida na Face tem temática diversificada. Como o senhor define o perfil da produção científica na área de economia na UFMG e no Brasil? Nos últimos tempos, o Seminário de Economia Mineira tem recebido autores e trabalhos de outros estados, o que, de certa forma, amplia o seu caráter originalmente regional ou estadual. Que tipo de interlocução Minas Gerais mantém com o resto do Brasil por meio do Seminário? Ele tem também um viés cultural muito forte... Como será a sua participação no seminário? E ele foi adotado? Leia mais sobre a proposta das novas territorialidades em reportagens publicadas pelo Boletim da UFMG e pela Revista Diversa.
No passado, o campo da economia era muito fechado. Hoje, algumas das universidades, em especial a UFMG, tentam estabelecer uma interface mais ampla com outras áreas. Mas uma parte das instituições ainda segue uma linha mais ortodoxa, quantitativa, matemática, econométrica; outra mantém um viés mais sociológico, com conexões com a história, economia política, ciência política. E há uma terceira corrente que estabelece interfaces muito fortes com temas como inovação e progresso tecnológico.
O Seminário de Economia Mineira iniciou com um foco muito mineiro. Com o tempo, ele foi evoluindo para discutir aspectos do desenvolvimento do Brasil, inclusive do ponto de vista teórico, com a presença de autores estrangeiros. O Seminário abriu o leque, avançou para além de Minas Gerais e hoje contribui como uma interpretação do Brasil.
Sempre teve. Isso ocorre desde a primeira edição em 1982, com a presença de especialistas de outras áreas do conhecimento, como artes e literatura.
Como reitor da UFMG, farei a abertura do evento na terça-feira, dia 25. E, como pesquisador, vou coordenar no dia seguinte mesa-redonda que tratará da relação entre a questão regional e territorial e o desenvolvimento econômico. Essa discussão será feita em torno de um estudo que coordenei há alguns anos e que propõe repensar a dimensão territorial e o desenvolvimento brasileiro. Esse trabalho, inclusive, resultou em proposta de políticas públicas para um Brasil policêntrico. O estudo foi publicado pelo Ministério do Planejamento em forma de livro.
O governo não encampou o conjunto de estudos porque traz uma implicação muito forte em termos de reorientação de investimentos e prioridades. Mas vários órgãos públicos e os sistemas empresarial e universitário estão tomando o estudo como referência. A Embrapa, por exemplo, o usou como parâmetro para definir a localização de seus novos centros de pesquisa. O Ministério da Integração Nacional se inspirou nele para estabelecer suas novas polarizações, e o das Cidades para repensar o planejamento urbano brasileiro.
O senhor tem defendido a necessidade de um novo arranjo institucional entre universidade, empresa e governo em relação à pesquisa, inovação e transferência tecnológica. Em que bases esse novo arranjo deve ser construído?
Primeiro, é preciso flexibilizar a relação entre governos e universidade. Isso passa, por exemplo, pela maior autonomia das universidades para gerir recursos públicos vindos de agências de fomento. Hoje, o Tribunal de Contas da União impede que instituições como a Finep transfiram recursos para as fundações de apoio à pesquisa. E, do ponto de vista da relação das universidades com as empresas, precisamos ter novos padrões institucionais que permitam a transferência de tecnologia sem as exigências legais da concorrência pública. Não se pode fazer concorrência pública para transferir segredo. Tecnologia implica controle do conhecimento, e sua transferência por meio de licitação é algo complicado no mundo inteiro. Nenhum laboratório ou organização baseada em conhecimento científico e tecnológico aceita expor publicamente suas condições de produção.