Desde a redemocratização do Brasil, nos anos 1980, a imprensa se constituiu como grande força política do país por gozar do monopólio da informação. O cenário mudou nos anos 2000, quando a internet se difunde no país de modo significativo e põe o leitor em um lugar novo e privilegiado, de acesso a novas e incontáveis fontes de informação e de produtor de conteúdo. A análise é do jornalista Luis Nassif, que realizou na tarde dessa terça-feira, 1º de junho, palestra na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. “Tínhamos um jornalismo de mão única”, declarou Nassif. Segundo ele, as redações podiam se valer de várias estratégias de manipulação na construção de uma notícia, pois o público não tinha outras fontes de informação para confrontar com o que lia no jornal. Com a internet, o leitor passa a ter a possibilidade de checar esse conteúdo e questionar o jornalista por suas escolhas. “A velha mídia entrou em crise pois desaprendeu os princípios básicos do jornalismo. Ela se tornou incapaz de apresentar denúncias consistentes”, apontou o jornalista. Tendências Gravações
“A internet representa a consolidação da sociedade civil brasileira”, segundo a análise de Luís Nassif. Articulada em ONGs e associações desde a redemocratização, a sociedade civil estaria encontrando na internet espaço para divulgar suas reivindicações e popularizar o debate de temas socias. “A mídia e o Congresso disputaram por muito tempo a condição de porta-voz da opinião pública. Quando o representante de uma ONG ganha visibilidade, obviamente tem mais legitimidade para falar das questões que defende”, avalia Nassif.
Os rumos do jornalismo nesse cenário também foram abordados por Nassif. “O papel do jornalista passa a ser muito mais o de mediador. Ele terá que sintetizar as informações de diversas fontes e não poderá mais enfatizar ou omitir fatos sem ser cobrado por isso.” Outra tendência seria a especialização de diversas instituições na produção de informações sobre si próprias, como a experiência do blog da Petrobras. “O jornalismo deverá ser o lugar de articulação entre esses diversos centros de informação”, apontou o jornalista.
Em sua passagem pela UFMG, Luís Nassif também gravará programas de debates em parceria com a TV UFMG, com participação de professores da Universidade. Os temas a serem abordados são pesquisa eleitoral, genoma, floresta amazônica e gastos públicos. Os programas serão veiculados no segundo semestre, na TV Brasil e no Canal Universitário (canal 12 da NET e 14 da OI TV).