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Paisagens em branco: arqueologia histórica antártica é o tema da exposição que grupo de pesquisadores da UFMG apresenta ao público da reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em Natal (RN), esta semana. A mostra reúne 17 peças (prego, cachimbo, pedaços de vidro) escavadas na região antártica entre fevereiro e março deste ano, pela expedição especializada em arqueologia histórica da Universidade. Também serão exibidos ao público vídeo sobre o trabalho de pesquisa e fotografias de artefatos e das escavações realizadas durante a viagem. De acordo com os pesquisadores, o interesse em levar a Natal parte da coleção arqueológica reside especialmente na possibilidade de estabelecer sua interação com o público. “A informação visual é parte importante do aprendizado e da construção de uma compreensão completa e sensível”, observa Sarah Hissa, aluna de mestrado integrante da equipe do projeto na UFMG e que participou da expedição à Antártica. Ela acrescenta que a proximidade das pessoas com a coleção permite uma inserção mais rica da cultura material no imaginário e na compreensão sobre o passado dos caçadores de foca antárticos. “O público vê, conhece e dimensiona o material arqueológico e imagina as pessoas utilizando aqueles objetos no passado”, ressalta. O conjunto das peças apresentadas na exposição da SBPC se compõe de cinco fragmentos de vidro, três pequenas estacas de madeira, um prego, um botão de metal, três fragmentos de grés, três fragmentos de cachimbo e um cachimbo completo. De acordo com Sarah Hissa, a seleção deste material – que está sendo exposto pela primeira ao público – decorreu do fato de serem menos (ou nada) degradáveis e, portanto, não necessitarem de refrigeração permanente. Além disso, ela acrescenta que eles são uma seleção relativamente representativa da variedade material que a coleção arqueológica recuperada apresenta. Durante a viagem do grupo à Antártica, foi coletado grande número de objetos pertencentes a antigos caçadores de focas. Além do conjunto que está sendo mostrado na SBPC, a coleção possui ainda outros de natureza mais frágil, como peças em osso, couro e tecido. “O material mais delicado se encontra na UFMG e refrigerado, sendo que toda a coleção será conservada e estabilizada pelo Laboratório de Ciência da Conservação, da Escola de Belas-Artes da Universidade”, relata Sarah Hissa. Para Sarah Hissa, outro objetivo de colocar em evidência esses materiais arqueológicos e o trabalho do grupo, na reunião da SBPC, é estimular a pesquisa em ciências humanas. “Como a maior parte das exposições da reunião, assim como da própria noção de ciência, inclui principalmente as ciências duras (física, astronomia, computação, biologia, geologia, entre outras), se faz sempre necessária a presença de projetos em outras áreas, para ampliar o conceito de ciência e o leque de abrangência de temas abordados”, reflete. O estudo de arqueologia histórica na Antártica é coordenado nacionalmente pelo professor da UFMG Andrés Zarankin. Um dos focos do trabalho é recuperar vestígios de pessoas comuns que exploraram um espaço que ele considera como "um dos mais misteriosos da superfície terrestre, descoberto apenas no final do século XVIII e início do XIX". "O projeto se preocupa com a construção de uma história alternativa às histórias oficiais da ocupação da Antártica. Enquanto a história oficial relata detalhes das grandes e pioneiras viagens exploratórias, sob a perspectiva dos capitães e grandes financiadores, essa história alternativa integra aquelas pessoas que se ocupavam dos afazeres cotidianos da exploração no próprio local. Essas pessoas são mantidas invisíveis nas histórias oficiais, quando, na verdade, eram centrais no processo exploratório, explicou Zarankin, em entrevista ao Boletim UFMG tão logo retornou da expedição feita à Antártica no início deste ano. Alternativa para quem não pode ir ao evento é conferir parte do acervo no site do projeto. Viagem virtual A embarcação possui plataforma de coleta de dados ambientais, e permite embarcar pesquisadores, professores e alunos, de forma contínua. A Marinha do Brasil é responsável pela operação e manutenção do navio, e abre uma vez por ano cerca de 30 vagas para a comunidade científica. A viagem virtual ao continente, na SBPC, acontece em espaço de projeção 3D, elaborado pelo Laboratório de Sistemas Integrados da Universidade de São Paulo (USP). Cada viagem será feita por um grupo de dez visitantes que serão apresentados primeiro à Antártica, depois ao navio polar, onde receberão as boas vindas do comandante da embarcação. Num terceiro momento, os visitantes conhecerão cinco dos projetos de pesquisa realizados atualmente na Antártica com o apoio do navio polar, como é o caso da arqueologia histórica coordenada pela UFMG. Do lado de fora do estande, o cenário é formado por icebergs. O evento acontece na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mais exatamente na ExpoT&C. Outra presença da UFMG na exposição é a Fundep, que divulga suas atividades de apoio à pesquisa em estande próprio. (Com informações da Assessoria de Comunicação do MCT)
A mostra da UFMG na SBPC integra exposição organizada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que fala sobre o navio polar Almirante Maximiano e propõe uma viagem virtual à Antártica a bordo da embarcação. O navio foi adquirido com recursos da Finep e custou R$ 80 milhões, sendo o único do gênero do Brasil dedicado ao desenvolvimento de pesquisas no ambiente marinho na região antártica.
Com 94 metros de comprimento, o que equivale a 25 carros enfileirados, a embarcação apoia o Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Ele é equipado com as mais avançadas tecnologias para pesquisa antártica, com destaque para as áreas de oceanografia, geologia marinha, geofísica e meteorologia. De acordo com o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), o que faz do Maximiano um navio polar perfeito são os equipamentos; um deles é o sistema de posicionamento dinâmico, capaz de manter a embarcação parada sem a necessidade de ancorá-la, mesmo em condições ambientais adversas
Navio polar Almirante Maximiano (H41) e navio de apoio oceanográfico Ary Rongel (H44) (Divulgação)