Apesar das diferenças na escala populacional e nos indicadores macroeconômicos, Brasil e Portugal guardam semelhanças que vão muito além da língua. É o que revela a programação de seminário sobre desenvolvimento socioeconômico que a UFMG e a Universidade do Porto realizam até esta sexta-feira, 17, em terras lusitanas. Em seis mesas-redondas, pesquisadores dos dois países abordarão temas como imigração, trabalho, direitos humanos, educação, formação e emprego, com o intuito de realizar reflexão conjunta, em diferentes campos do conhecimento. “As relações entre Brasil e Portugal têm muitos pontos em comum, que não só remontam ao processo histórico, mas estão ligados à consistente ampliação dos laços nas últimas décadas”, comenta o professor Allan Claudius Queiroz Barbosa, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG, um dos coordenadores do evento. Segundo ele, é visível a interação crescente que vivem os dois países, com queda de barreiras tarifárias e não tarifárias, liberalização comercial progressiva e projetos privados com massivo volume de investimentos. Quatro eixos Já o terceiro eixo, com o tema Políticas públicas, cidadania e economia social, chama a atenção para os modelos de Estado social que procuram alternativas de crescimento econômico para fazer face à crise do modo de regulação monopolista sustentado por regime de acumulação intensivo, com consumo de massa e relação salarial fordista – baseada, por exemplo, na segurança do emprego, salários adequados, regimes de proteção social e redistribuição dos rendimentos por meio de impostos. “Considerando a flexibilidade quantitativa das relações de trabalho e a dificuldade estatal para suportar todas as vertentes das políticas sociais, Portugal e Brasil vivem contextos socioeconômicos idênticos”, avalia Allan Claudius. O último bloco de temas, denominado Desenvolvimento econômico e regional, prevê discussões que visam repensar o desenvolvimento regional à luz de estudos internacionais, com ênfase nas relações Brasil-Portugal. “Deverá ser considerada na análise a identificação de novas características regionais de industrialização e de possíveis distritos industriais ou clusters, observando aspectos que levaram ao seu sucesso ou fracasso”, antecipa o professor. Também serão discutidos aspectos relacionados a eficiência econômica e delimitação geográfica dos espaços de análise, em contraposição à tradicional abordagem político-administrativa. Relações históricas Ele explica também que, além de permitir troca de informações científicas e produção de documentos nas áreas abordadas, a realização do seminário contribuirá para preparar a mobilidade de discentes e investigadores entre os dois países. Pela UFMG, além de Allan Claudius, participam do evento os professores Ana Hermeto Camilo de Oliveira, Frederico Gonzaga Jayme Junior, Carlos Alberto Gonçalves, Henrique Oswaldo Torres e Rodrigo Ferreira Simões, e a diretora de assistência do Hospital Universitário Risoleta Neves, Mônica Aparecida Costa.
Em consequência disso, Allan Claudius avalia que há campo para reflexões sobre aspectos tão diversos como desenvolvimento regional, avaliações de políticas públicas, de sistemas de emprego e de experiências no campo das competências e da inovação, além da análise de percursos de inserção profissional de jovens licenciados do ensino superior e de adultos em processo de escolarização e qualificação.
Os temas foram agrupados em quatro eixos que estruturam o seminário e o protocolo de cooperação entre as duas universidades. O primeiro eixo, denominado Educação, formação e mercado de trabalho, propõe o debate sobre áreas fundamentais para a compreensão das relações entre os sistemas de ensino, a formação e a atividade econômica. O segundo – Inovação, competências e gestão de recursos humanos – sugere discussão em torno da adoção de modelos de competências e seu impacto nas práticas de recursos humanos.
O I Seminário de Desenvolvimento Socioeconômico Brasil-Portugal será realizado nos dias 16 e 17 deste mês, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Flup), em parceria com a Face/UFMG e com a participação da Faculdade de Medicina da instituição portuguesa. “O evento terá a presença de pesquisadores e docentes dos dois países e gera interesse especial em função da cooperação em curso entre as duas instituições de ensino, que têm relações históricas nesse campo de conhecimento”, afirma Allan Claudius.