Universidade Federal de Minas Gerais

Acervo João Renato Stehmann
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Mata Atlântica, Serra do Mar

Inventário confirma alta taxa de espécies endêmicas na Floresta Atlântica

segunda-feira, 2 de agosto de 2010, às 7h54

Quais espécies de plantas ocorrem no Brasil? A resposta a essa questão até bem pouco tempo só poderia ser dada com base em informações reunidas pelos naturalistas viajantes do século 19, em especial na obra Flora Brasiliensis (1840-1906), do botânico Philipp von Martius.

Novo inventário, coordenado pelos pesquisadores João Renato Stehmann, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, e Rafaela Campostrini Forzza, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, reúne informações coletadas por cerca de 200 taxonomistas.

Publicado no livro Plantas da Floresta Atlântica, o trabalho documenta a ocorrência das espécies vegetais distribuídas no chamado Domínio da Floresta Atlântica, complexo de ecossistemas quase contínuos ao longo da costa brasileira, desde o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, que abriga cerca de 5% da flora mundial.

Endemismo
Os estudos confirmam que a floresta atlântica tem alta taxa de endemicidade, ou seja, de plantas que ocorrem exclusivamente nela, constituindo-se no quinto hotspot mais rico em endemismo no mundo, isto é, uma das áreas prioritárias ao se considerar a necessidade de preservação da biodiversidade no planeta.

O inventário contém dados sobre as 15.782 espécies vegetais distribuídas em 2.257 gêneros e 348 famílias dessa floresta que, segundo os pesquisadores, localiza-se 95% em território brasileiro e o restante na Argentina e no Paraguai. “Agora temos a noção precisa da real riqueza, do quanto desse patrimônio é exclusivo e do número de espécies ameaçadas de extinção avaliadas pela comunidade científica, parte delas aceitas na lista oficial brasileira”, diz João Renato Stehmann.

De acordo com o levantamento, 6% dos gêneros e 45% das espécies catalogadas são endêmicos. “Isso significa que quase metade de toda a diversidade de plantas vasculares encontradas nessa formação é exclusiva e representa cerca de 2% das espécies de plantas do planeta”, informam os autores.

Os quatro hotspots mais ricos em endemismo do que a floresta atlântica são: Andes (15 mil espécies), Sunda (15 mil), Bacia do Mediterrâneo (11,7 mil) e Madagascar e ilhas do Oceano Índico (11,6 mil).

O livro informa que o número de espécies ameaçadas de extinção na floresta atlântica não é consensual, e cita três diferentes referências: enquanto a International Union for Conservation of Nature (IUCN) considera 160 espécies sob ameaça e quatro extintas, a Fundação Biodiversitas informa que há 719 ameaçadas e oito extintas. As duas instituições utilizam dados de 2009. Já na lista oficial da flora ameaçada publicada pelo Ministério do Meio Ambiente em 2008 constam 238 espécies. “A falta de uma base de dados dinâmica, consistente e atualizada impede o monitoramento e avaliações que nos permitam ter indicadores de mudança do estado de ameaça das espécies, como já vem sendo feito para uma pequena parcela da fauna brasileira”, justificam os pesquisadores.


Mata Atlantica_Linhares.jpg
Mata Atlântica, Linhares (ES)
Preservação
Enquanto a primeira parte da obra aborda a diversidade taxonômica da floresta atlântica, a segunda apresenta a listagem das espécies, com informações sobre endemismo, habitat e categoria de ameaça. “São dados essenciais para fornecer a ligação entre a análise científica e a tomada de decisões, tão necessárias para expandir os esforços de conservação e a sustentabilidade desse que é um dos maiores repositórios de biodiversidade do planeta”, define Luiz Paulo de Souza Pinto, diretor do Programa Mata Atlântica, da instituição Conservação Internacional.

Os autores dizem esperar que a listagem, “especialmente aquela de endemismos, seja foco de especial atenção nas futuras avaliações sobre o estado de conservação da flora brasileira, contribuindo assim para a preservação deste inestimável patrimônio biológico”.

E comentam que os motivos pelos quais as espécies da floresta atlântica estão ameaçadas já são bem conhecidos, como perda do habitat, fragmentação, introdução de espécies exóticas e exploração de espécies com valor comercial, que estão associados a fatores sociais, culturais, políticos e econômicos.

“Muitas espécies abundantes no passado hoje são raras na natureza, com populações em declínio, restritas a áreas de difícil acesso ou extintas localmente”, ressaltam, ao citar exemplos que, segundo eles, ilustram as consequências causadas pelas atividades humanas, como a extração exaustiva de espécies arbóreas apreciadas pela qualidade e pelo alto valor comercial de sua madeira, como pau-brasil (Caesalpinia echinata), jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra), braúna (Melanoxylon brauna) e imbuia (Ocotea porosa).

Os autores citam ainda o extrativismo exacerbado do palmito (Euterpe edulis) e a coleta predatória devido ao comércio ilegal de espécies com potencial ornamental como bromélias, orquídeas e cactos.

O somatório de tais atividades transforma áreas contínuas em fragmentos isolados e promove a simplificação biológica nos remanescentes naturais. Nem mesmo os sistemas de unidades de conservação são capazes de proteger a biodiversidade da floresta atlântica, já que apenas 2% da área total do Domínio estão nessas unidades.

“A presença das angiospermas ameaçadas de extinção em unidades de conservação nunca foi efetivamente avaliada. Dessa forma, não sabemos quais e quantas espécies encontram-se protegidas nesses sistemas”, dizem os autores da pesquisa. “É emblemático o caso da Anomochloa marantoidea, conhecida apenas por três populações no sul da Bahia, e que não se encontra protegida. Como este caso, dezenas de outros podem ser enumerados”, destacam.

Lançado em Belo Horizonte neste domingo, 1°, no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, o livro Plantas da Floresta Atlântica está disponível para consulta no site do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (http://www.jbrj.gov.br/publica/livros_pdf/plantas_floresta_atlantica.zip).

A publicação contou com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e das entidades Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (Critical Ecosystem Partnership Fund – CEPF).

Confira trecho de entrevista com João Renato Stehmann, professor do Departamento de Botânica do ICB e um dos coordenadores da pesquisa:

Qual a diferença entre mata atlântica e floresta atlântica?
João Renato Stehmann
- Os termos se equivalem. Preferimos usar Floresta Atlântica, para que a formação possa ter uma abrangência universal (Atlantic Forest). Mata Atlântica tem uma abrangência mais regional, embora seja o adotado pela legislação brasileira (Bioma Mata Atlântica). É importante salientar que há um Domínio dessa formação – a maior parte no território brasileiro –, e que neste domínio há formações tanto florestais como não florestais (campos de altitude). Essa diversidade de ambientes é, de certa forma, responsável pela fantástica riqueza encontrada na floresta atlântica.

Quais as áreas que compõem a floresta atlântica?
João Renato Stehmann
- A definição do que pertence à floresta atlântica é muito bem detalhada na legislação brasileira (Lei 11.428/2006) e inclui as diferentes fitofisionomias da vegetação, tecnicamente nominadas como Floresta ombrófilas, Florestas estacionais (onde se inserem as Matas Secas), Campos de altitude, Vegetação de restinga e de brejos, etc. Por esse motivo, áreas florestais mais interioranas, em regiões onde prevalece o cerrado ou a caatinga, são considerados encraves da floresta atlântica. A flora desses encraves se relaciona mais com a mata atlântica do que com a formação matriz (que domina o entorno).

Por que o grupo vegetal denominado angiosperma é citado com destaque no livro?
João Renato Stehmann
- São reconhecidas como pertencentes ao reino das plantas algumas algas, os musgos (briófitas), as samambaias (pteridófitas), os pinheiros (gimnospermas) e as plantas que produzem flores e frutos (angiospermas). Atualmente o grupo mais diversificado de plantas é o representado pelas angiospermas, que domina a paisagem continental da Terra. Nem sempre foi assim. Por esse motivo é o melhor representado em termos de riqueza e de endemismo na floresta atlântica. Por possuir grande número de espécies com distribuição geográfica muito restrita, é também o grupo com o maior número de espécies ameaçadas de extinção.

Como esse trabalho, reunido na obra Plantas da Floresta Atlântica, pode ajudar na preservação das espécies?
João Renato Stehmann - Para que se possa utilizar a biodiversidade de maneira sustentável, precisamos conhecê-la. Conhecemos com detalhe o "reino mineral", mas somos ignorantes no que toca ao seres vivos. A flora brasileira foi descrita originalmente na monumental obra iniciada por Martius, Flora Brasiliensis (1840-1906). De lá para cá, produzimos muito conhecimento, mas disperso, e induzidos pela demanda desorganizada de nossa sociedade. Passados mais de cem anos, ainda não somos capazes de responder perguntas tão singelas como: quantas espécies de plantas ocorrem no Brasil? Onde elas ocorrem? Como podemos reconhecê-las? Assim, o livro Plantas da Floresta Atlântica foi um trabalho colaborativo dos botânicos brasileiros que tentou responder algumas dessas questões, agregando informações básicas mínimas sobre a diversidade vegetal encontrada na formação. Agora temos a noção precisa da real riqueza, do quanto desse patrimônio é exclusivo e do número de espécies ameaçadas de extinção avaliadas pela comunidade científica, parte delas aceitas na lista oficial brasileira.

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