Coordenador do mais recente e completo inventário sobre as espécies vegetais da floresta atlântica brasileira, o pesquisador João Renato Stehmann não vê justificativa para o projeto de lei, recentemente aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas, que, em linhas gerais, permite a derrubada de grandes porções das matas secas no norte do estado, em favor da exploração de atividades como a agropecuária. Professor do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, João Renato Stehmann explica que as matas secas são extensões da floresta atlântica, com espécies que toleram a sazonalidade climática das regiões mais interiores - com estação seca pronunciada. Segundo ele, vários artigos que comparam a flora da mata seca com a de outras formações florestais sulamericanas comprovam essa relação florística. “A tentativa de retirá-la da Mata Atlântica só pode ser interpretada como uma manobra para justificar a destruição dos poucos remanescentes ainda existentes dessa tipologia (Floresta Estacional Decidual)”, afirma, ao acrescentar que, no ano da biodiversidade, “aprovar essa medida não faz o menor sentido, pois seria um retrocesso, uma irresponsabilidade em termos ambientais”.