A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou ontem, em seu portal, nota técnica com diretrizes a serem adotadas por hospitais com o intuito de reduzir número de infecções pela superbactéria Klebsiella. Essa medida é uma resposta ao anúncio feito na última quarta-feira, 20, pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, sobre a série de casos de pessoas infectadas por esse microrganismo no Distrito Federal e nos estados de São Paulo e Paraná. Segundo a Anvisa, as superbactérias “são microrganismos resistentes a diferentes classes de antimicrobianos testados em exames microbiológicos”. As diretrizes incluem manutenção e intensificação do sistema de vigilância epidemiológica das infecções, por meio das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) dos hospitais. Nesta entrevista, a coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital das Clínicas da UFMG e professora do Departamento de Propedêutica Complementar (PRO), Wanessa Trindade Clemente, explica a importância das medidas da Anvisa e por que alguns pacientes são mais sensíveis à infecção. Com a senhora avalia as medidas preconizadas pela Anvisa? Quem são os mais afetados por essa bactéria? O que diferencia a KPC de outras superbactérias? Por que essa bactéria tem ocorrido com essa intensidade?
O controle e a informação sobre infecções são importantes sobretudo para o governo, que precisa estar ciente das regiões em que há maior incidência e do crescimento dos casos. Esses dados são necessários para que se adote posicionamento visando contornar a situação, propondo medidas que solucionem ou mitiguem seus efeitos. Esse processo de comunicação entre os órgãos envolve a CCIH dos hospitais, Núcleo de Epidemiologia, as vigilâncias municipal e estadual de Saúde e a Anvisa.
O uso racional de antibióticos visa reduzir os impactos da seleção microbiana. O uso de álcool é uma medida básica e essencial para impedir a contaminação de pacientes pelo contato com médicos, visitantes e acompanhantes.
Por enquanto, só se verifica a ocorrência de infecções em pacientes com problemas graves e, principalmente, aqueles que passam por tratamentos invasivos e usam grande quantidade de medicamentos. Estes últimos são muito sensíveis, porque, devido à grande quantidade de drogas a que a que são submetidos, passam por um processo de seleção de microrganismos por meio do qual permanecem em seu organismo aqueles que são mais resistentes. Não é o caso de alarmar a sociedade quanto ao perigo de infecção indiscriminado. É um fenômeno ainda restrito aos hospitais, daí a importância de medidas preventivas nas instituições.
Essa bactéria é do tipo multirresistente, ou seja, tolera um grande número de antimicrobianos. O que a distingue das outras é a a produção da enzima carbapenemase – daí o nome pelo qual é comumente conhecida: KPC (Klebsiella Produtora de Carbapenemase) –, que inativa os antibióticos carbapenêmicos, um dos mais desenvolvidos atualmente. Pode-se dizer que essas bactérias geram grandes dificuldades no tratamento, devido a sua tolerância a ampla gama de antibióticos. Mas é inverídico dizer que elas provocam mais mal que as já identificadas.
É tudo muito recente. Não podemos precisar características desse microrganismo. A ocorrência reiterada, no entanto, não quer dizer que ela seja nova, ou que não tenha surgido anteriormente. A questão é que os hospitais e laboratórios só conseguiram agora instrumentos necessários para identificá-la. A infecção pode ter acontecido outras vezes, mas não foi notificada porque os especialistas não possuíam meios para reconhecê-la. A primeira ocorrência foi registrada nos Estados Unidos, no estado da Carolina do Norte, em 1996. Depois disso, apenas em 2001 foram publicados trabalhos a esse respeito, e, em 2004, ela passou a ser conhecida mundialmente.