Observar galáxias, nebulosas e corpos celestes no interior de uma sala de aula parece um horizonte distante. Ainda mais se as imagens a estudar são escolhidas pelos próprios alunos por meio de um telescópio instalado na cobertura de um edifício universitário. Em breve, esse cenário se tornará realidade no Departamento de Física da UFMG, que acaba de adquirir um telescópio de fabricação norte-americana. A expectativa é que em maio as observações possam ser realizadas no prédio do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), campus Pampulha. O equipamento, que será usado na formação dos alunos do curso de graduação em Física da UFMG, chegou dos Estados Unidos em dezembro, e custou cerca de R$ 21 mil. “A ideia é tê-lo aqui em um local permanente”, anuncia o astrônomo e professor Gabriel Franco, coordenador do projeto que pleiteou o financiamento do telescópio junto à Fapemig. O telescópio Schmidt-Cassegrian, produzido pela Celestron, tem 35 centímetros de diâmetro, pesando, quando montado, aproximadamente 130 quilos. “Ele combina a ótica de um telescópio refletor, que usa espelho como objetiva, com uma placa corretora Schmidt”, explica Franco, acrescentando que a potencialidade do equipamento varia de acordo com a ocular acoplada ao telescópio. “Ele está limitado a um aumento mínimo de 51 vezes e máximo de 841 vezes”, detalha. Para se ter uma dimensão do alcance de sua objetiva, o professor informa que, por ela, podem-se observar estrelas quatro mil vezes mais fracas que as mais fracas captadas pelo olho humano. Cúpula O telescópio foi financiado pela Fapemig por meio de edital para seleção de projetos de astronomia lançado em 2009. A UFMG recebeu recursos de cerca de R$ 55 mil e com eles adquiriu o Schmidt-Cassegrian e um telescópio solar, que ainda chegará ao ICEx, e será usado em observações diurnas. De acordo com Gabriel Franco, os universitários poderão operar o telescópio de dentro da sala de aula, pelo computador ou por controle remoto, como se estivessem em um observatório profissional. “O estudante fará as imagens, ou seja, escolherá o material que pretende observar”, diz o professor. O professor vislumbra outro benefício da aquisição. “Um telescópio instalado no campus evitará, em alguns casos, deslocamentos até outros observatórios”, exemplifica. Ele também espera que mais jovens se interessem pela astronomia – aumentando o número de alunos habilitados nessa área no bacharelado –, uma vez que o equipamento se constituirá em mais uma opção para estudos astronômicos, juntando-se aos observatórios Frei Rosário da UFMG, na Serra da Piedade, e o do Pico dos Dias, localizado em Brazópolis, no Sul de Minas, este administrado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA/MCT). Especialista em estudos do Meio Interestelar, com doutorado na Dinamarca, Gabriel Franco cogita, ainda, usar o telescópio em atividades de divulgação para o grande público devido à relativa facilidade de instalação oferecida pelo equipamento. “Como é compacto, pode ser transportado sem maiores problemas. Eventualmente, talvez possamos até montá-lo em algum lugar público fora da Universidade”, analisa. (Boletim UFMG, edição 1727)
Gabriel Franco ainda sonha com a construção de uma cúpula no alto do prédio do ICEx para instalar e proteger o equipamento. “Mas isso demanda outros investimentos”, argumenta o professor, que garante que em maio utilizará o telescópio em suas aulas mesmo sem a cúpula. Por agora, o período de chuvas não permite que o instrumento de observação noturna seja instalado na cobertura do ICEx.