A escrita existe porque existe o tempo, afirmou Maria Rita Kehl na reabertura do ciclo de conferências Sentimentos do Mundo, esta manhã, no campus Pampulha. Vencedora do prêmio Jabuti de 2010 na categoria Melhor Livro de Educação – com O Tempo e o Cão –, Maria Rita publicou três livros de poesia, atuou em diversos veículos de comunicação e é autora do famoso artigo Dois Pesos. A psicanalista e escritora confessou ter tido dúvidas sobre como abordar o tema O mundo por escrito, e se emocionou com a pequena introdução da coordenadora do projeto, Ana Caetano. Maria Rita declamou poemas de Manuel Bandeira, contou piadas e leu um texto que escreveu especialmente para o seminário, abordando a relação entre a escrita e o tempo. Ao finalizar com o verso “Ainda sobra muito para mim, meu amor”, do francês Boris Vian, recebeu aplausos efusivos da plateia, que lotou o auditório da reitoria. Confira alguns momentos da conferência. Por que escrevo? Deslumbramento simulado Tempo real Dor temporal O relógio da arte Poder da palavra Humor que supera o tempo
Só se conhece o mundo através da escrita, que é, também, uma forma de “guardar o tempo”. Mesmo quando não se escreve sobre o tempo, escreve-se o tempo. Escrever é uma tentativa de prender o tempo numa página. “Quem escreve quer perdurar”, afirmou Maria Rita.
Segundso Maria Rita, com o passar do tempo, o tédio adolescente mostra que acabou a infância. O encantamento, antes acessível, torna-se cada vez mais raro. Os jovens talvez usem drogas tentando reproduzir de forma falha esse paraíso perdido, simulando o deslumbramento infantil.
O tempo que nos pertence é o individual. Não se pode deter o “tempo real” – o tempo que passa – mas existem momentos em que o tempo se detém. “Nessa hora, estamos dentro do tempo”, ela filosofou. De acordo com a escritora, para o insconsciente tudo é presente.
O corpo não sabe que o tempo passou. “O corpo é sempre agora”, ressaltou Maria Rita. Quando a memória avisa ao corpo que os anos passaram, "a consciência do tempo dói".
Toda arte inclui o tempo ao representá-lo. Os objetos de arte transmitem a memória, através das impressões individuais de cada artista. O melhor lugar para a arte é a memória.
"A palavra é capaz de escrever o real e sobrevive aos homens. Não nos relacionamos pelas palavras, mas com as palavras. As palavras permitem que a memória retenha as coisas ao nomeá-las, atribuindo-as um valor", afirmou a psicanalista.
Segundo Maria Rita Kehl, devemos trazer o valor das palavras humorísticas para nosso cotidiano. Ela lembrou que, segundo Freud, o dito irônico é um dos recursos mais sublimes contra as adversidades da vida. O humor supera, através da palavra, o nosso “eu”. “Rir é perdoar-se”, disse, sorrindo, a escritora.