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O sistema imunológico passou por diversas transformações ao longo do tempo. E elas não ocorreram apenas no plano biológico, mas também na forma de compreender o seu funcionamento. Essa análise foi feita por uma das maiores autoridades mundiais no assunto, o imunologista português António Coutinho, em conferência na manhã desta sexta-feira, no auditório da Reitoria, dentro do programa Sentimentos do Mundo. “Quando comecei a estudar o sistema imune, ele era visto como uma parte separada do resto do corpo. Hoje é tratado como elemento que se relaciona com os demais”, destacou o imunologista, diretor do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), um dos principais centros de formação de pesquisadores em biomedicina do mundo. Em sua exposição, Coutinho lembrou que o sistema imune tem dois ramos: o inato e o adaptativo. O inato é aquele que está presente na memória genética, adquirido já no nascimento. O adaptativo se desenvolve ao longo da vida do indivíduo, seja por influências externas ou internas. A presença do sistema adaptativo é muito útil para o organismo, pois, como salientou Coutinho, é capaz de “se lembrar” de infecções já ocorridas e, consequentemente, revisitar o processo empreendido para a cura. Ele citou pesquisa feita com camundongos em que se aplicavam, repetidas vezes, células patogênicas em dois grupos de animais. O primeiro contava somente com o sistema imunológico inato e o outro possuía tanto o inato quanto o adaptativo. Ambos eram capazes de se curar, mas o primeiro precisava se esforçar mais. “Ao fim de cada processo anti-inflamatório era como se o organismo dos camundongos com apenas o sistema inato se esquecesse do que foi feito. Já naqueles com o sistema adaptativo o processo era facilitado pela memória adquirida com a infecção anterior”, detalhou Coutinho. Para o professor, a capacidade de incorporação de uma experiência adaptativa ao sistema inato é uma das grandes contribuições da evolução. Além disso, lembrou que o sistema adaptativo presente nos vertebrados é ainda mais impressionante porque consegue “prever o futuro”. Em outras palavras, consegue oferecer resposta a um elemento patogênico mesmo sem conhecê-lo. “Os linfócitos são verdadeiros artistas porque inventam novas formas de combater patologias na medida em que se confrontam com as células patogênicas”, afirmou. A vinda do professor António Coutinho à UFMG foi viabilizada por cátedra do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat). Nesta terça-feira, dia 6, às 11h, no auditório 4 do ICB, ele voltará a falar à comunidade acadêmica da UFMG, dessa vez sobre a experiência do Instituto Gulbenkian de Ciência.