As agências de fomento devem extrapolar a mera distribuição de recursos para investir em propostas que desenvolvam o país e que não somente o modernizem, afirmou esta tarde, na UFMG, José Galizia Tundisi, da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Os dilemas acerca do tipo de ajuda (interna ou externa) que seria capaz de mudar o panorama das universidades brasileiras foi assunto da mesa-redonda Universidade, agências de fomento e desenvolvimento científico e tecnológico, no Seminário do Fórum de Estudos Contemporâneos. ´Participaram também Paulo Sérgio Beirão, professor do Instituo de Ciências Biológicas e diretor do CNPq, e o reitor Clélio Campolina. De acordo com Tundisi, “as universidades têm amarras institucionais que a impedem de resolver assuntos que vão além dos muros do campus”. É preciso, segundo ele, dar atenção aos problemas interdisciplinares – pendências econômicas, sociais e ecológicas que fazem parte da sociedade e que a Universidade, com seu conhecimento, deveria solucionar. “É importante ter produção científica ‘dentro da redoma’, mas precisamos ficar atentos ao que acontece ao redor. Necessitamos desenvolver conhecimento e aplicá-lo”, afirma. A ideia, continuou Tundisi, é "sair dos muros, trabalhar junto à comunidade,com apoio a iniciativas que proponham interação entre as realidades externas e o conhecimento científico”. Tundisi também ressaltou que a inovação tecnológica não se faz só na indústria e que a universidade deve estar apta a oferecer este tipo de oportunidade. Para Paulo Sérgio Beirão, a questão se resume a ter uma meta de desenvolvimento. “Hoje temos 12 mil doutores formados; há uma década, isso era impensável. As universidades brasileiras são, sim, capazes de superar desafios.” Ele lembra do projeto Apolo, da Nasa, cuja única missão era enviar tripulantes para a lua e que acabou resultando na adaptação dos computadores para um modelo menor e criação de chips e celulares. “As pedrinhas que vieram do espaço foram menos importantes que as tecnologias desenvolvidas”, reflete. Beirão afirmou também que “nossa estrutura de ensino superior ainda é muito arcaica”. Para sair do modelo rígido e dar lugar a maior flexibilização do ensino, é necessário escapar da “maldição do sucesso”. “Por ser bem-sucedida, a UFMG se acomodou em sua estrutura. Nesse sentido, o sucesso pode ser imobilizador”.