O vírus que Jônatas usou na produção da vacina é similar ao empregado na imunização da varíola, só que inativado. “O vírus vivo faz com que a vacina gere muitos efeitos colaterais, como necrose dos membros do corpo, reações alérgicas e até aborto”, conta. Para evitar tais complicações, lançou mão de um processo denominado prime-boost heterólogo, que consiste na imunização em dois momentos: no primeiro, com uma dose da vacina inativada, e posteriormente com a aplicação de reforço com moléculas virais que estimulam o sistema de defesa do animal. “Com essa associação, obtivemos não somente a proteção de 100% dos camundongos testados como diminuímos sensivelmente a gravidade dos sinais clínicos. Os animais imunizados resistiram a uma elevada carga viral do vaccinia, que normalmente os mataria”, explica Jônatas. Depois dos testes com camundongos, a próxima etapa é experimentara a vacina em bovinos, o que deverá ocorrer na Escola de Veterinária, sob a coordenação da professora Zélia Lobato, colaboradora do grupo. “A vacina é promissora e a intenção é testá-la no gado para controlar a infecção, que está se disseminando por todo o país”, comenta Jônatas. Os estudos em torno do desenvolvimento da vacina foram idealizados pela professora Erna Gessien Kroon, do Departamento de Microbiologia do ICB e orientadora da tese, e iniciados pela professora Jaqueline Ferreira, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Hospedeiros Outra frente do estudo, iniciada pela professora Giliane de Souza Trindade, também do Departamento de Microbiologia, baseou-se na identificação de hospedeiros e reservatórios do vírus para traçar estratégias de controle epidemiológico. Jônatas Abrahão realizou quatro expedições de campo em pequenas propriedades de cidades mineiras como Mariana, Paraguaçu e Curvelo, onde foram registrados surtos de vaccinia bovina. Em Mariana, Jônatas isolou o vírus de roedor da espécie Mus muscullus – tipo de camundongo doméstico –, capturado em área rural do município. Ao analisar o vírus isolado de uma pessoa infectada, de um bovino e o do próprio roedor, o pesquisador constatou que se tratava do mesmo agente infeccioso causador da vaccinia bovina. Paralelamente às expedições, ele analisou uma coleção de soros de macacos (prego e bugio) e de outros animais silvestres amazônicos e verificou neles alta prevalência de anticorpos, indício da elevada circulação do agente em áreas florestais. “Como o vírus transita entre roedores que vivem nas imediações de domicílios e em ambientes silvestres, é possível concluir que ele pode estar migrando da floresta para os pastos e fazendas, pois roedores circulam livremente entre os ambientes silvestres e os ocupados pelos humanos e animais de criação”, explica o pesquisador. Acesse a reportagem completa. Tese: Vaccinia virus no Brasil: padronização de um sistema prime-boost para imunização e determinação de seus hospedeiros naturais
Augusto Lacerda
Jônatas Abrahão: descobertas
Testes realizados em camundongos com vacina desenvolvida contra a vaccinia bovina, doença que ameaça cerca de 90% do rebanho leiteiro em Minas Gerais, apresentou alto índice de imunização sem produzir efeitos colaterais. Desenvolvida pelo ex-aluno de doutorado Jônatas Santos Abrahão, hoje professor do ICB, a vacina é um dos principais resultados da tese Prevenção e controle do Vaccinia virus no Brasil: padronização de um sistema prime-boost para imunização e determinação de seus hospedeiros naturais, uma das 34 vencedoras da edição 2011 do Grande Prêmio de Teses da UFMG. O trabalho foi defendido no ano passado no Programa de Pós-graduação em Microbiologia do ICB.
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Autor: Jônatas Santos Abrahão
Orientadora: Erna Geessien Kroon
Programa: Pós-graduação em Microbiologia do ICB
Defesa: 2010