A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, criticou na semana passada o governo federal pelo corte de investimentos em áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento do país, como ciência, tecnologia e inovação. Apesar de o ministério ter incorporado "inovação" ao nome no ano passado, Helena lembrou isso não se refletiu em reforço orçamentário.
"Quando se corta na cadeia de produção que envolve educação, ciência, tecnologia e finalmente a inovação demora-se um tempo para ver efeito nocivo do que foi esse corte", analisa Helena. "Essas são áreas estratégias para o Brasil ser um país de primeiro mundo", complementa.
Ao se mostrar "chocada" com o novo bloqueio de investimentos para tais áreas, Helena observa que essa decisão segue na contramão da tendência de países desenvolvidos. "Fico muito preocupada. Quero imaginar que talvez a presidente Dilma não tenha visto quão nocivo é o corte para a nação brasileira", complementa.
Com o novo contingenciamento, em dois anos o orçamento do MCTI encolheu de R$ 7,8 bilhões, em 2010, para R$ 5,2 bilhões em 2012. Apenas este ano perderá 23% dos R$ 6,7 bilhões que estavam previsto na Lei Orçamentária Anual.
Investimentos e desenvolvimento
Segundo Helena, embora tenha ultrapassado a Inglaterra no ano passado, tornando-se a sexta economia do mundo, o Brasil "ainda está aquém do que precisa" evoluir em termos de desenvolvimento científico e tecnológico. Ou seja, apesar de conquistar o status de sexta economia mundial, o país ainda ocupa a 13ª posição na produção de conhecimento.
"Para nós, cientistas, a leitura é outra. O Brasil pode ser a sexta do mundo, mas está a anos luz atrás da Inglaterra que tem educação de alta qualidade em todos os níveis, tem ciência, tecnologia e inovação de altíssima qualidade, em número abundante para aquela população", observa Helena.
O presidente da ABC, Jacob Palis, também repudiou os cortes no orçamento do MCTI. Ao lembrar que a entidade e a SBPC têm se pronunciado consistentemente sobre a "a importância" de investimentos crescentes" em CT&I para assegurar o presente e o futuro do Brasil, Palis fez um apelo à presidente Dilma Rousseff "por ampla revisão dos recentes cortes de orçamento nessas áreas.
Frustração do setor produtivo
Com a mesma visão, a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), que responde por 2,3% dos investimentos privados em inovação no País, alerta sobre o impacto negativo do bloqueio de investimentos em CT&I para a competitividade brasileira. Para o vice-presidente da instituição, Guilherme Marco de Lima, o bloqueio deve reduzir os estímulos do setor privado, adquiridos nos últimos anos, pela forte concorrência dos produtos chineses.
"Um corte dessa proporção prejudica, ainda mais, a capacidade das empresas brasileiras de agregarem valor aos seus produtos e processos e, consequentemente, de reverterem o déficit crescente da balança comercial [nesse segmento]", acrescenta.
Por outro lado, Lima prevê que as commodities devem continuar no comando da pauta da balança comercial do país, setor que no ano passado saltou para 36% do total de produtos brasileiros exportados, o maior percentual desde 1977. Dessa forma, ele avalia que a decisão do governo federal segue na contramão da bandeira da presidente Dilma Roussef - levantada na posse do ministro Marco Antonio Raupp - de usar ciência, tecnologia e inovação como áreas estratégias no desenvolvimento do País.
"Por se tratarem de investimentos em áreas inovadoras, precisamos de continuidade na alocação de recursos em ciência e tecnologia em curto, médio e longo prazo, como uma política de Estado".
Para Lima, o corte pelo segundo ano consecutivo deve interferir, ainda, nos investimentos em CT&I como proporção do PIB, cuja estimativa do governo é de elevar o atual patamar de 1,2% para 1,8% do Produto Interno Bruto em 2014. Além disso, Lima disse que o país fica cada vez mais distante de alcançar patamares sugeridos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) de 2,2% a 2,5% do PIB em CT&I.
(Com Jornal da Ciência)