Uma das maiores preocupações durante o tratamento do câncer é evitar que as células cancerígenas se espalhem para outros órgãos, processo conhecido como metástase. Diversas técnicas de controle, como a cirurgia de esvaziamento axilar, evitam que isso aconteça ou minimizam danos. O procedimento consiste na retirada de todos os gânglios linfáticos da região da axila, primeiro lugar para onde o câncer de mama costuma se espalhar. Contudo, tal prática lesiona nervos na região, o que pode resultar em dor crônica, inchaço e perda de sensibilidade no braço, efeitos colaterais que não podem ser tratados com medicamentos e causam grande desconforto para as pacientes. Com o objetivo de diminuir algumas dessas sequelas, a cirurgiã Mônica Duarte Pimentel propôs mudanças na técnica cirúrgica, descritas em tese de doutorado defendida na Faculdade de Medicina. Durante o procedimento, Mônica preservou dois nervos - intercostobraquial e terceiro nervo intercostal. De acordo com a pesquisadora, os resultados do experimento, realizado com 64 mulheres, foram animadores. Após um ano de acompanhamento, 80% das pacientes operadas desse modo apresentaram menor nível de dor. Além disso, a sensibilidade do braço foi preservada em 64% dos casos. “Após a cirurgia com as modificações propostas, as pacientes tiveram melhora considerável”, afirma a médica. Segundo ela, os nervos isolados estudados na pesquisa são facilmente lesados em procedimentos cirúrgicos como esse. “Por causa da maneira como estão dispostos, há grande chance de serem prejudicados se não houver a intenção de poupá-los”, diz Mônica. Ela explica que por muito tempo pensou-se que esses nervos dificultavam a operação de esvaziamento, atrapalhando o controle do câncer, por isso eram retirados. A pesquisa mostrou o contrário. “Preservar tais estruturas não atrapalha o controle do câncer. E as sequelas para a paciente justificam a busca de uma alternativa”, explica a pesquisadora. Duração Mônica também comparou os benefícios de preservar ambos os nervos ou apenas o intercostobraquial. Apesar de apresentar desempenho superior quando os dois são poupados, a diferença não é suficientemente significativa para justificar a preservação do segundo nervo. A autora da tese, no entanto, ressalta a importância de mais estudos na área. “É necessário estudar mais o assunto, com número maior de pacientes, para verificarmos essas conclusões”. Tese: Avaliação clínica após a preservação dos nervos sensitivos intercostobraquial e ramo cutâneo lateral do terceiro nervo intercostal durante a dissecção axilar por câncer de mama. (com Assessoria da Faculdade de Medicina da UFMG)
Apesar de necessitar de mais cuidado durante a cirurgia, a mudança de procedimento não exige grande aumento no tempo da paciente no bloco cirúrgico. “Em geral, são acrescentados apenas mais 10 ou 15 minutos”, afirma Mônica. No entanto, não são todos os casos em que é possível realizar essa cirurgia. “Algumas situações, como um grande número de linfonodos comprometidos na axila, ou nódulos muito aumentados, que envolvam o nervo, impedem que este seja preservado. Mas na grande maioria das pacientes isto é possível”, esclarece a cirurgiã.
Autora: Mônica Duarte Pimentel
Programa: Saúde da Mulher
Orientadora: Helenice Gobbi