As mudanças ocorridas no cenário internacional e os novos desenhos econômicos, políticos e geográficos mundiais foram os temas que nortearam a mesa-redonda Mudanças Geopolíticas Contemporâneas, realizada na noite de ontem (quarta, 29), durante o XV Seminário sobre a Economia Mineira, que acontece em Diamantina até amanhã, com transmissão ao vivo. A mesa foi proposta pelo curso de Relações Econômicas Internacionais da UFMG e teve a economia como papel central, mas transdisciplinar. Os expositores foram os professores Donald Rolfe Sawyer e Antônio Ramalho, ambos da UnB, e Bernardo Campolina, da UFMG. Já o Brasil, ele comenta, precisa de um projeto nacional de longo prazo. Ele defende que a liderança brasileira não seria tão indiscutível como se acredita. “O Brasil pleiteia uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, mas será que realmente tem condições, mesmo com tantos problemas internos? É preciso antes se aproximar e entender países como os africanos, a Índia e a China para saber como funcionam os processos de relações internacionais nesses locais”, provocou Campolina.
O professor Donald Sawyer focou na área socioambiental e destacou que é preciso se repensar quase tudo no que diz respeito à sustentabilidade. Segundo ele, há novos desafios para a pesquisa e a ação nesse setor e existe a possibilidade de que o Brasil assuma papel de liderança nas questões relacionadas à legislação ambiental. Sawyer sustenta que alguns temas defendidos pelos ambientalistas não são tão importantes como se acredita para a promoção da sustentabilidade. Ele defende, por exemplo, a construção de hidrelétricas, pois elas são necessárias ao desenvolvimento, e assinala que os biocombustíveis não são tão benéficos, já que causam mudanças negativas no uso da terra.
Sawyer salientou ainda que os desafios que se colocam são agravados pela globalização e que o consenso entre governos soberanos requer um denominador comum. “A ONU não decide nada e está na hora de assumir um outro papel. A governança global não passa pelo governo global, que vai contra a soberania.” Para ele, a visão planetária atual favorece que o norte global fique com o que tem e o sul global continue sem recursos. “A globalização avançou, mas é preciso entender que o campo não acabou. É lá que estão a água, a biodiversidade e estoques de carbono.” Com relação à legislação, o professor afirmou que o Brasil tem as melhores leis ambientais do mundo, mas não basta aplicar o que já existe. É preciso integrar as leis e normas ao contexto mundial.
‘No mesmo barco’
O professor Antônio Ramalho destacou que o mundo passou por mudança estrutural profunda desde o final da Guerra Fria, pela primeira vez sem haver uma guerra que chamasse o planeta à reorganização. Essas mudanças se deram nos campos financeiro, social, político e cultural. “Agora estamos todos no mesmo barco. Não há como haver mudanças em uma região sem que se provoquem alterações em outras partes do mundo.” Para ele, é sabido que as regras que se apresentam no contexto mundial contemporâneo não são boas, mas não há clareza do que colocar no lugar delas, não há um consenso. Ainda segundo Ramalho, há uma desconexão entre a evolução dos polos de poder e sua representação nas instituições internacionalmente representativas. “O Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, não representa verdadeiramente a distribuição de poder que se desenhou.”
Sobre os possíveis cenários futuros, o professor da UnB acredita numa relativa decadência de países desenvolvidos, como nações europeias, o Japão e os Estados Unidos. “Hoje já se imagina um retrocesso desses países, diferentemente de poucos anos atrás, quando podia até se pensar em estagnação, mas não em retrocesso. Os Estados Unidos não têm mais uma sobressalência internacional muito clara”, ressaltou. De acordo com Ramalho, há dúvidas com relação à Rússia e o Brasil, por sua vez, é uma grande potência em ascendência. Índia e China são os vitoriosos nesse rearranjo político e deve-se prestar atenção em países como a Turquia, a Indonésia e a África do Sul, principalmente por sua posição geográfica.
A geografia política e a economia política internacional foram o foco da exposição do professor Bernardo Campolina. Ele explicou que a geografia política é o estudo das relações entre o território e o poder. Ela demonstra como os estados, tidos como organismos vivos – tomando emprestadas ideias darwinistas – surgem, crescem e entram em declínio. O ideal nacional, segundo Campolina, deveria integrar povo e solo, uma vez que o solo é permanente e o estado é transitório.
Sobre os diversos cenários contemporâneos, o professor da UFMG destacou que os Estados Unidos estão formando seu território, tentando manter uma certa distância da política europeia, mas com ações agressivas de avanço de sua territorialidade. No entanto, o terrorismo que entrou em cena a partir do 11 de setembro e a crise de 2008, que solapou o que restava de hegemonia dos Estados Unidos, são fatores desfavoráveis aos planos norte-americanos. A Europa, por sua vez, também quer ir além de suas fronteiras, mas o mundo está testemunhando a volta da geografia política, ou seja, os países estão querendo se afirmar.
O Seminário de Diamantina é promovido pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar) da UFMG. A programação completa da décima quinta edição do evento está disponível no endereço eletrônico www.cedeplar.ufmg.br/diamantina.