São as ondas ou os remos que dirigem nosso barco? A pergunta feita pelo professor Paulo Paiva, da UFMG, que abriu a mesa-redonda sobre economia mineira na noite de ontem, durante o 15º Seminário de Diamantina, resume um dos grandes dilemas no estado: exportar recursos naturais em função da demanda internacional ou investir em inovação e fortalecer o setor industrial? Para discutir a questão, participaram da mesa Marilena Chaves, pesquisadora da Fundação João Pinheiro, Otávio Soares Dulci, professor da UFMG e Paulo Paiva (coordenador), ex-presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). O tom do debate foi de consenso em relação ao cenário econômico mineiro. Professores refizeram o percurso histórico, apontando momentos de conjunção entre a economia de Minas e a do Brasil. Nos últimos 30 anos, segundo os pesquisadores, Minas Gerais vem acompanhando tendências da economia nacional: há três décadas o momento era de desequilíbrios e ajustes a curtíssimo prazo por conta da crise recessiva e inflacionária; há 20 anos acontecia a reforma monetária e a reorganização da gestão política e, na última década, país e estado vêm retomando o crescimento a partir de esforços para estimular a economia num prazo mais longo, levando em conta a necessidade de inclusão social. Marilena Chaves destacou que Minas vive processo de desindustrialização, o que pode ser observado pela participação do setor secundário no PIB do estado: houve queda de 28% para 16% de 1985 para cá. No cenário nacional, situação parecida: queda de 32% para 16% nesse mesmo período. Esses números, segundo ela, podem ser contrapostos à crescente participação do setor de bens e serviços na soma das riquezas do Brasil e do Mundo. Esse processo reforça o que, nas palavras do professor Otávio Dulci, é “o carro-chefe e o carma da economia de Minas”: a produção e a exportação de recursos naturais como grãos e minérios. Isso porque a demanda internacional por esses produtos caros é elevada, mas, apoiando-se neste setor e na conjuntura internacional, o estado fica vulnerável à instabilidade das economias de outros países. O grande receio dos economistas, acentuou Dulci, é de que ocorra com o Brasil algo parecido com o que houve em 1929, quando a bolsa de valores americana quebrou e faliram os cafeicultores brasileiros que exportavam sua produção. Maior margem de manobra Os participantes da mesa concordaram que é preciso apoiar a recente campanha do governador O Seminário sobre a Economia Mineira encerra na noite de hoje. Cerca de 600 pessoas participaram do evento. Programação completa e os artigos apresentados estão disponíveis no site www.cedeplar.ufmg.br/cedeplar.
De acordo com Paulo Paiva, entretanto, o cenário internacional não é mais o mesmo de 80 anos atrás e é possível usar essa característica da economia mineira a favor do estado: “já que nós temos a sina de exportar essas commodities, será que podemos vislumbrar novas possibilidades? Eu observo um novo cenário, diferente daquele de 1929. A demanda por esses produtos se tornou muito mais diversificada do que naquela época e não depende mais só dos países centrais. A novidade agora é a procura ampliada por alimentos em função do maior acesso ao consumo e da melhoria da renda nos países da periferia. Temos que levar em conta também a diversificação de parceiros comerciais e investidores entre os países. A margem de manobra hoje é maior e o importante é o que vamos fazer com isso. O Brasil tem o pré-sal, Minas tem os minérios. Se nós achamos que uma área da nossa indústria deve ser salva, devemos deslocar a renda das commodities para outros objetivos do estado”, explicou o professor.
Antônio Anastasia pelos royalties do minério. O objetivo é pressionar a aprovação, pela presidenta Dilma Rousseff, do projeto que muda o cálculo da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), o que poderá garantir R$300 milhões a mais por ano aos cofres de Minas e das prefeituras do estado.