No Brasil, é necessário maior investimento público em infraestrutura e educação, e os Estados Unidos também devem se preocupar com a educação, que está aquém dos padrões internacionais e pode impedir o crescimento econômico, afirmou na manhã de hoje, em Diamantina, o economista americano Gary Dimsky, professor da Universidade de Leeds, no Reino Unido, Ele participou como conferencista do 15º Seminário sobre a Economia Mineira, promovido pela UFMG. Em sua terceira participação no evento bienal, Dimsky, autor de sete livros e mais de 180 artigos, analisou aspectos da crise econômica mundial, com especial atenção aos casos dos Estados Unidos e da zona do euro. Ele concedeu a seguinte entrevista à equipe da TV UFMG.
O que a economia mundial aprendeu depois dessa crise que devastou mercados ao redor do mundo?
Nós aprendemos que temos um governo em Washington que sabe como contornar esses problemas e impedir um colapso econômico total, mas que não é bom na restauração da prosperidade. Então nós paramos nesse ponto, com uma situação de estagnação.
E o senhor considera que casos assim mostram que é necessário haver um controle maior do governo sobre a economia?
Acho que é preciso haver mais ações positivas do governo, o que inclusive é uma grande discussão aqui no Brasil. É necessário maior investimento público em infraestrutura e educação. Nos Estados Unidos, a educação está bem atrás dos padrões internacionais, o que certamente será um grande impedimento para o crescimento econômico. Acho que esses problemas podem ser resolvidos. Nosso problema é que temos visões contraditórias em Washington, com apoiadores do presidente Obama e do Mitt Romney (candidato republicado à presidência dos Estados Unidos), o que gera dificuldade de consenso sobre a necessidade da intervenção do Estado na economia.
A posição americana, na liderança econômica mundial, sofreu alguma alteração depois dessa crise?
A posição americana sobre a economia tem se mantido nos últimos 30 anos de neoliberalismo. A ideia de governo como o gestor do crescimento da economia tem sido minada por muitos anos, porque se pensa que o governo está por trás da economia, não as pessoas. E isso se torna uma ideologia que é reproduzida pelas pessoas. Se continuarmos a pensar assim, teremos um longo caminho pela frente.
O Brasil não sofreu tantos danos com a crise. Qual a explicação para isso?
O Brasil é um país diversificado, que vende para diferentes áreas e países, e por isso conseguiu superar a desaceleração econômica que afetava Estados Unidos e Europa. Além disso, o Brasil tem mostrado condições de manter uma economia interna forte, com a chamada nova classe média. É uma alternativa frágil, mas um elemento muito importante no cenário de crescimento da economia brasileira.
Como analisa a atual crise econômica que afeta os países da União Europeia?
Há uma clara contradição entre os mecanismos adotados pelos governos e o que precisa ser feito. Eles realmente têm dificuldades em conciliar as dificuldades da reforma bancária com os pacotes de estímulo à economia.
Como os países do bloco Brics são afetados por essa crise?
Acredito realmente que os Brics serão desafiados por essa crise, porque, nos últimos anos, eles têm assumido papel significativo na dinâmica da economia mundial e, ao mesmo tempo, todos se preocuparam somente com os próprios desafios de crescimento interno. A Índia está passando por um severo momento de reflexão e até mesmo de crise, no que se refere às instituições e lideranças democráticas. A China começa a encontrar dificuldades, assim como o Brasil, a Rússia e também a África do Sul, que são países com desafios significativos. Então, acho que os Brics ainda estão atuando de forma passiva na cena econômica global e, por isso, precisaremos de uma renegociação dos papéis na dinâmica mundial antes de resolvermos o quadro atual de estagnação e retomar o crescimento.