A crise internacional foi analisada pelo prisma de diversas teorias econômicas na noite desta sexta-feira, 31, último dia do 15º Seminário de Economia Mineira de Diamantina. A mesa-redonda Crise e pensamento econômico, coordenada pelo professor da UFMG Gustavo Britto, contou com exposições dos professores João Machado, da PUC de São Paulo, Peter Scott, da Universidade de Massachusetts (EUA), e Fernando Cadim de Carvalho, da UFRJ. A diversidade de perspectivas para o entendimento da crise apresentada pela mesa evidenciou a complexidade para resolver o problema que se arrasta desde meados de 2007. Para João Machado, é possível pensar a crise, com base na teoria marxista, basicamente a partir de duas linhas: a que entende que a situação americana chegou à gravidade atual por causa do crescimento a partir da desigualdade – com o endividamento da classe média, por exemplo – e outra que defende que a acumulação de capital no país gerou uma sobrecapacidade econômica. A discordância passa também por outro ponto: se após a crise de 1970, considerada similar à atual, houve recuperação da taxa de lucro pelos países afetados ou se a recuperação aparente não foi de fato sustentada. Todas as linhas marxistas convergem, porém, segundo o professor, em um ponto: a crise nos países centrais começou com o aumento exagerado da esfera financeira e a negligência de governo e instituições quanto ao risco gerado por esse quadro. “A discussão é rica, mas até certo ponto frustrante, por causa da ausência de consenso na análise ampla do problema”, concluiu Machado. O professor Peter Scott, da Universidade de Massachusetts, por sua vez, optou pela crítica ao modelo econômico heterodoxo. Segundo ele, essa linha de raciocínio tem alguns desafios pela frente: repensar o modelo de gestão e promover maior integração entre a micro e a macroeconomia, e atentar, de forma especial, para os problemas provocados pela obsessão pelo poder, como a desigualdade, por exemplo. Outro aspecto apontado pelo professor foi o que envolve a produção de conhecimento a partir das relações criadas entre teoria econômica, empirismo e hipóteses. Segundo ele, é preciso questionar, nos estudos de economia, o que é um ponto de partida válido para uma projeção e que atenção deve ser dada às hipóteses e aos resultados. Encerrando sua participação, o professor Fernando Cadim de Carvalho destacou que o debate sobre a crise europeia está desvinculado da lógica econômica, ao contrário do que ocorre, por exemplo, no Brasil, onde, para ele, há relativa conexão entre as políticas de governo e a academia.
Por fim, Fernando Cadim de Carvalho, da UFRJ, expôs três aspectos da crise econômica internacional que impactam o pensamento econômico construído nas academias. O primeiro deles: uma crise como essa gera a falsa impressão de que novos conceitos teóricos devem ser criados para resolvê-la. Entretanto, ele disse, “o que parece exigir novas teorias, na verdade, exige reavivar as velhas teorias, que deveriam ter sido melhor observadas”. Para Carvalho, o entendimento de depressões econômicas depende, também, de estudo da História, já que alguns fenômenos ressurgem de tempos em tempos.
O Seminário de Economia Mineira terminou na noite desta sexta-feira, após três dias de debates sobre economia, políticas públicas, história e demografia no âmbito do estado, do país e do mundo. Os anais do evento podem ser acessados no site www.ufmg.br/cedeplar.